O distante sonho do Oscar

Paulo Sérgio Almeida
30 dez 14

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Divulgação

Logo após a retomada (aliás, alguém tem notícia dela?), o cinema brasileiro e o público em geral viveram um frenesi em relação ao Oscar. Durante alguns anos, vários filmes foram indicados e alguns conseguiram ser selecionados e ficar muito próximos, ao que parece, de ganhar uma estatueta, como foi o caso de Central do Brasil, de Walter Salles, O quatrilho, de Fábio Barreto, O que é isso, companheiro?, de Bruno Barreto, e Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Digo “ao que parece” porque, na realidade, poucos sabem o que acontece de verdade nos bastidores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Seja no Oscar ou no Globo de Ouro, esses filmes chegaram muito perto da glória e a imprensa local nos fez viver estes momentos como se estivéssemos numa Copa do Mundo. Foi até bonito, emocionante, em especial no caso de Central do Brasil, que ganhou o Globo de Ouro e parece ter batido na trave no Oscar. Mas, com o tempo, a expectativa foi caindo, visto que os filmes brasileiros deixaram de empolgar e o número de concorrentes cresceu bastante. A lista dos países mais parece uma reunião da ONU.

Explicações para as sucessivas decepções vieram de toda parte. Primeiro, argumentava-se a importância da contratação de um especialista em Los Angeles com o objetivo de fazer sessões para os votantes, procedimento que foi adotado várias vezes. Depois começaram as histórias de que o filme tinha que ter “perfil de Oscar”. Como assim? Pesquisas mostram que há uma tendência dos acadêmicos a premiar filmes com histórias melodramáticas, de preferência com crianças, com um certo clima de denúncia social e, claro, com personagens judeus perseguidos. Meu Deus, como conseguir tudo isso? A qualidade fílmica não interessa? Sim, interessa, quando estes requisitos não estão fortemente presentes, como aconteceu em alguns casos.

Mas vejam, por exemplo, o favorito de 2015 ao Oscar de melhor filme estrangeiro, Ida (em cartaz nos cinemas brasileiros), que recorda os efeitos do nazismo e do comunismo na Polônia, a partir de uma freira que descobre que é judia. Só falta a criancinha...

Este favoritismo e tantas outras premiações passadas deixam claro que o critério não é cinematográfico, mas sim de conteúdo, no qual as ideologias de Hollywood dão as coordenadas para o que eles chamam de “resto do mundo”.

Não é sempre assim e não se trata de choro de perdedor. O filme argentino O segredo dos seus olhos, de Campanella, que venceu o Oscar em 2010, não tinha nada disto e o prêmio foi muito bem-vindo, coroando toda uma cinematografia. Mas este ano o brasileiro Hoje eu quero voltar sozinho não teve a mesma sorte. Ainda que tenha feito bela carreira em festivais e estreado em várias cidades americanas com críticas ótimas, não conseguiu a indicação (embora o anúncio dos concorrentes ainda esteja por sair, foi divulgada em caráter oficial uma short list com os filmes que ainda estão no páreo e o brasileiro não está entre eles).

Todos esses conceitos e critérios foram estabelecidos quando o mercado americano era o maior do mundo e o internacional era apenas um coadjuvante que complementava as receitas de Hollywood. Hoje a situação se inverteu: o mercado externo paga o filme americano, cada vez mais caro e sem retornos garantidos no mercado interno.

Pode-se questionar o selo de qualidade que a premiação do Oscar confere aos títulos escolhidos, mas não se pode subestimar a sua importância mercadológica. Por isso é importante que o regulamento e os critérios em relação aos filmes estrangeiros, mudem radicalmente.

A pergunta que fica é a seguinte: por que países como o Brasil e diversos outros se submetem, a cada ano, a competir com cerca de 70 outros diante de uma comissão de desconhecidos notáveis ou decadentes que assinam sem ver, com o objetivo lotérico de... vencer?

Os cinco concorrentes ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira, na “grande festa do cinema mundial”, com duração de cerca de três horas e com audiência em todo o mundo, têm direito apenas a 30 segundos de vida. O vencedor foi... acabou.

Até o ano que vem!