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Depois de experimentar o rolo-compressor de Hollywood com 12 horas e de se aventurar na superprodução (para padrões brasileiros) Serra Pelada, tudo o que Heitor Dhalia quer agora é voltar para seu aconchego. O cineasta pernambucano, revelado com a comédia sombria O cheiro do ralo (2007), escolheu um retrato intimista da relação entre uma atriz e um encenador veterano de teatro como seu próximo projeto. O longa O diretor será um mergulho no (des)equilíbrio entre mestre e pupilo, com toques de erotismo. “O filme terá uma pegada mais europeia, no estilo O último tango em Paris. É um conto moral sobre os bastidores do entretenimento, uma trama sobre obsessão sexual”, descreve Dhalia.
Ambientado nas coxias de uma montagem de Hamlet, o filme terá locações em um teatro real, que a produção pesquisa no momento. A história começa quando o consagrado diretor decide voltar ao texto de Shakespeare, dez anos depois de fracassar com outra encenação. Ecos de Birdman? Dhalia jura que não. “O roteiro foi escrito dois anos antes de o filme sair. Nossa inspiração foi o universo de diretores teatrais objetos de culto, como Antunes Filho. Nesse sentido, para ficar no Oscar, Whiplash seria mais parecido”, explica o cineasta.
Quando diz “nossa”, ele se refere à parceria com Nara Chaib Mendes, egressa do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) de Antunes, com quem escreveu o roteiro a quatro mãos. Os dois se conheceram durante as filmagens do clipe de Moon, de Thiago Pethit, que Dhalia dirigiu e Nara estrelou no fim de 2013. Da fascinação por esse universo fechado de uma encenação teatral, quase um huis-clos, surgiu a ideia de explorar a relação extrema dos personagens. “Será um filme basicamente de atores e texto, nesse sentido meio teatro mesmo”, diz Dhalia.
O projeto foi autorizado a captar R$ 2,5 milhões, consideravelmente menos que os R$ 12 milhões do orçamento de Serra Pelada – 12 horas, sua incursão pelo cinema americano, teve um custo divulgado de US$ 28 milhões. “Mas é um filme que se ajustaria bem a recursos mais enxutos, se for o caso”, explica o diretor, que começa a filmar no segundo semestre. O longa inaugura uma nova fase mais pessoal, que segue no ano que vem com outro projeto, uma comédia negra na linha de O cheiro do ralo. “Depois de dois filmes grandes, quero voltar para os projetos mais íntimos, sem grandes concessões”, revela.
Concessões essas que rechearam sua até agora única experiência hollywoodiana. Lançado em 2012, o thriller 12 horas teve um bastidor marcado por ingerências de produtores, que Dhalia na época chamou de “ditadura”. Sem controle sobre o roteiro e sem autorização para ensaiar com sua protagonista, Amanda Seyfried, ele não se reconhece no resultado final. Hoje, à distância, embora confesse ter ficado “traumatizado”, já cogita discutir a relação com o cinema americano. “Por enquanto estou focado nas minhas coisas, mas até hoje recebo roteiros de lá. É muito esforço fazer algo em outra língua e para seguir uma carreira internacional eu teria que me mudar para lá. Mas pode ser que um dia eu retome”, diz.
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