Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Os impactos da Lei da TV Paga sobre o mercado audiovisual brasileiro podem ser sentidos em diferentes aspectos. Um deles, talvez o mais expressivo, seja o boom de produções independentes no país, de forma a alimentar a demanda por conteúdo nacional nos canais fechados. Assunto bastante atual, este foi o mote do debate entre representantes do Curta!, Box Brazil, PlayTV e CineBrasilTV em uma das mesas do RioContentMarket, na tarde de sexta, dia 27. Dois tópicos se tornaram o eixo central desta discussão: o papel ocupado, hoje, pelos canais independentes, e o espaço disponível para produções de fora do eixo Rio-São Paulo.
Entre os canais presentes, três já existiam quando a Lei 12.485 foi criada – apenas o Curta! veio depois –, mas todos concordaram que foi somente a partir de 2011 que passaram a ter relevância dentro das grades de programação oferecidas ao público. Todavia, outros problemas ainda persistem. “Criou-se um gueto em torno dos canais de cota, que são empurrados para o final do line up das operadoras, e assim se torna difícil encontrá-los”, criticou Tereza Trautman, da CineBrasilTV, que, há dez anos no ar, dedica sua programação às produções nacionais independentes.
Sobre a produção de conteúdo próprio ou em parceria, Ramiro Azevedo, da Box Brazil, afirma que ainda é inviável a coprodução sem recursos do Fundo Setorial. “No momento, faz muito mais sentido investir no licenciamento, que vai entrar na grade imediatamente, do que injetarmos dinheiro próprio”. Como ainda há desinformação das produtoras, principalmente de menor porte, sobre as exigências legais e documentais para acessar recursos e licenciar suas obras, canais como a PlayTV acabam tendo uma função didática. “Às vezes a gente encontra uma produtora bem pequenininha, mas que tem um conteúdo muito bem adaptado à nossa programação. Então a gente pega pela mão mesmo, é quase uma capacitação para inseri-los no mercado”, explicou Rodrigo Lariú.
A PlayTV, porém, ainda não contrata projetos regionais. “Os principais produtores que entregam material para o nosso canal são do eixo Rio-São Paulo, mas a gente tenta fazer com que os produtos contratados abordem temáticas voltadas também para outras localidades”, afirmou Lariú. Já a Box Brazil dá preferência às produções “marginais”, reflexo de sua localização em Porto Alegre, longe das metrópoles do sudeste. Ainda assim, a cada 300 projetos recebidos, cerca de 280 provêm do Rio e de São Paulo.
Mais novo integrante dessa turma bem-sucedida de canais voltados para programação independente, O Curta! surgiu em 2011, e desde o início sua proposta foi trabalhar com terceiras, quartas e quintas janelas, “sem o menor problema”, deixou claro Julio Worcman, sócio fundador do canal . “O Curta! já nasceu para promover syndications (programas vendidos para vários canais, modelo bastante usado na TV americana) e fazer curadoria de novas produções independentes, por isso somos conhecidos pelo mercado como um canal de garimpagem muito bem feita, tanto de produções recentes como de outras mais antigas, que foram sucesso anos atrás”. Mas, segundo Worcman, o que precisa ser feito para que os syndications caiam no gosto do mercado brasileiro é criar uma cultura de intercalar janelas, com uma média de um mês para cada canal. “É preciso desenvolver isso para não haver choque de programação nem desvalorização dos produtos”.
Diante deste quadro, as expectativas são as mais otimistas possíveis. “Acredito que a gente vai ver, nos próximos dois ou três anos, uma colheita mais positiva para esses conteúdos regionais”, concluiu o moderador Mauro Garcia, diretor executivo da ABPITV.
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