Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Após adquirir quatro unidades do Espaço Itaú de Cinema — duas em São Paulo, uma no Rio e uma no Distrito Federal —, a Cinesystem agora totaliza 27 complexos e 181 salas no país.
Segundo Marcos Barros, diretor da exibidora, cujo market share no ano passado ficou em torno de 4%, a expansão da rede vai além da satisfação de fazer a empresa crescer: ele quer, também, valorizar a produção independente brasileira e estrangeira.
Em entrevista à Filme B, Barros, que também é presidente da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Cinematográficas), defende a participação da exibição na definição das regras da Cota de Tela e diz que o mercado tem até 2027 para voltar aos níveis pré-pandemia: "Caso contrário, estamos fazendo algo errado."
Qual foi o objetivo da aquisição do circuito Espaço de Cinema?
Qualquer aquisição tem o objetivo de aumentar a escala e, com isso, reduzir custos. Mas houve outras razões. Primeiro, a importância de entrar na Zona Sul do Rio [Botafogo], em Brasília e na Pompeia [São Paulo], que é um dos cinemas mais frequentados do país. Com isso, podemos ampliar o Cine Atelier, nosso programa de projeção de filmes independentes, que ainda não têm o espaço merecido no grande circuito.
Qual a importância de valorizar o filme independente no grande circuito?
Muitas vezes, existem poucos gêneros em cartaz. A longo prazo, isso é desastroso para o nosso negócio, porque os novos consumidores se afastam. Nos EUA, o público vem caindo há mais de 30 anos. Por isso é importante apostar no chamado "filme médio".
Essa pode ser uma estratégia de defesa contra o streaming?
O streaming não é necessariamente um mal para o cinema. Pelo contrário. Acho que a soma dos dois estimula a plateia e a formação de público. O problema é a janela, que não pode ser reduzida demais, e também o fato de os estúdios não produzirem filmes de gêneros mais variados. O problema não está no streaming, e sim na produção. Mas já existe uma movimentação para contornar isso. Apple e Amazon já estão lançando filmes nos cinemas, que, aliás, precisam ser a primeiríssima janela.
O que vai mudar na programação dos cinemas adquiridos pela Cinesystem?
A gente pretende investir e melhorar a curadoria de filmes independentes, promover eventos e fazer pré-estreias. Agora temos cinemas muito representativos para este tipo de produção. Não significa que não teremos blockbusters, e sim que vamos misturar.
Você já falou que a indústria de cinema voltaria aos patamares pré-pandemia em 2026. Ainda acredita nisso?
A greve dos atores e roteiristas deu uma represada nas produções, e pode ser que só em 2025 o ritmo volte ao normal. O ano de 2026 é, provavelmente, quando a indústria se estabilizará, e 2027 é o prazo final. Se até lá não estivermos nos níveis pré-pandemia, é porque estamos errando muito como indústria.
Como tem acompanhado as políticas audiovisuais, como Cota de Tela?
Tenho opiniões conflitantes sobre a cota. Ela precisa existir, mas há uma tendência de sempre culpar o exibidor pelo mau desempenho de um filme, quando na verdade precisamos olhar também para a produção. O fomento no Brasil não privilegia o sucesso, a área comercial. É um modelo paternalista. Aí a bomba estoura no exibidor. Vamos bem em festivais internacionais, mas quem vê nossos filmes lá fora? Nós vemos filmes coreanos. E eles? Veem filmes brasileiros? Nosso fomento precisa levar nossas obras ao mundo inteiro.
E outros mecanismos, como a regra da dobra [prática de mercado através da qual o exibidor mantém em cartaz por mais uma semana o filme cuja bilheteria da última semana seja igual ou maior do que a média observada na sala em está sendo exibido]? Podem servir para reorganizar o mercado?
A regra da dobra, se fosse uma obrigação, penalizaria demais o exibidor. Não faz sentido manter um filme com uma média de 100 espectadores em detrimento de outro com 500. É a mesma coisa que chegar uma coleção de inverno e a loja ser obrigada a manter metade da vitrine com a coleção anterior. A Cota de Tela já é o regulador. Agora, o mercado exibidor precisa participar, anualmente, das discussões de definição da cota. As regras precisam ser definidas a partir de dados atuais, e não de lembranças de como já foram no passado.
Qual a maior ameaça do cinema hoje?
Temos o problema da pirataria, que, na minha opinião, é o inimigo número um do cinema. A pirataria faz com que os estúdios queiram entrar no maior número de sessões possíveis para captar o público antes de o filme cair na pirataria. No Brasil, pouco se fala nesse assunto, parece um tabu. Defendo que se crie uma espécie de federação do audiovisual, na qual tratemos de assuntos que não sejam conflitantes entre os setores, para que possamos levar a Brasília propostas de comum acordo.
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