José Padilha em foco no RioContentMarket

José Padilha em foco no RioContentMarket

Jaime Biaggio
26 fev 15

Imagem destaque

Divulgação

Não é fácil para nenhum diretor não americano se estabelecer na indústria de entretenimento de Hollywood e as coisas não têm sido diferentes para o brasileiro José Padilha, cuja trajetória internacional foi tema de uma palestra na tarde da quarta-feira, 25 de fevereiro, no RioContentMarket. A advogada Susan Bodine, do escritório Cowan, DeBaets, Abrahams & Sheppard LLC, que presta assessoria jurídica para a produtora de Padilha, a Zazen Produções, discorreu por cerca de uma hora sobre o lento processo iniciado há 15 anos pelo diretor de Tropa de elite - bem antes, portanto, do sucesso daquele filme, ganhador do Urso de Ouro em Berlim, em 2007. A carreira de Padilha sempre teve um pé fora do Brasil, desde 2000, quando ele produziu e roteirizou o documentário Carvoeiros (título internacional The Charcoal People), dirigido pelo inglês Nigel Noble - e, dois anos depois, começou a ganhar escopo nos EUA com a boa receptividade crítica a Ônibus 174, codirigido com Felipe Lacerda, que chegou a ser cogitado para o Oscar da categoria.

Com promessa de Oscar ou sem ela, apontou Susan, um pequeno documentário ainda não dá a um diretor cacife instantâneo na indústria de Hollywood. "Por exemplo, na busca por um agente, nós o alertamos de que era preciso ser realista", disse ela. "Os grandes não vão sair batendo na sua porta ainda. O caminho é pegar alguém novo, cheio de gás, disposto a crescer com os clientes que tiver". Foi o que Padilha fez (posteriormente, seu agente iria para a CAA, uma das maiores do ramo, levando o diretor junto). O próprio Tropa de elite não representou ainda um grande salto. "Apesar da vitória em Berlim, não houve interesse em lançá-lo em cinemas por lá", disse Susan. Este teria sido o primeiro grande desapontamento de Padilha, muito em função do relacionamento com o produtor Harvey Weinstein. "Eles se deram bem - por um curto período", brincou ela. Weinstein esteve à frente da operação de lançamento do filme inicialmente, dando passos ousados - tirou-o abruptamente do Sundance Film Festival, bancando a aposta em Berlim como plataforma mais adequada - mas a distribuição, que acabou ficando a cargo da IFC Films, foi modesta, com sessões em festivais de segunda linha e disponibilidade em DVD.

Padilha não perdeu a fé no projeto Tropa de elite por isso e logo se decidiu por dirigir a parte 2, O inimigo agora é outro, de 2010. Neste processo, não teve o apoio de seus parceiros internacionais. "Admito que nós do escritório, o agente, todos fomos inicialmente contra essa decisão", disse Susan. "Achávamos que não era a hora, que o nome dele havia começado a aparecer para os produtores internacionais e era hora de embarcar num projeto de língua inglesa, não de dirigir outro filme no Brasil. Mas Padilha se mostrou certo, pois Tropa de elite 2 pode ser considerado um êxito ainda maior que o primeiro". O filme tornou-se a produção nacional de maior bilheteria no mercado brasileiro, com 11 milhões de espectadores, e, aí sim, pôs o diretor na lista de nomes em consideração para filmes de língua inglesa. Aí ficou fácil? Não. Padilha acabaria escolhido para dirigir a refilmagem de RoboCop, mas como diretor contratado, sem direito a corte final.

"Ele teve grandes brigas com o estúdio, com cada lado defendendo a sua visão do filme. Claro que Padilha era ouvido. Quando você contrata um diretor, quer o input dele, quer as suas sugestões. Mas, em última instância, a decisão final sobre cada ponto de atrito não cabia a ele", disse Susan, que, no entanto, acha que RoboCop era o passo natural a ser dado pelo diretor naquele momento. "Achávamos que ele deveria aproveitar a oportunidade, o interesse pelo seu nome, e embarcar imediatamente em algo, de preferência algum projeto que estivesse pronto para sair do papel, esperando apenas um diretor. O resultado de RoboCop foi ok, com críticas positivas e uma performance de bilheteria razoável, abaixo do que o estúdio esperava, mas que não dá para chamar de fracasso".

Padilha está agora dando o que Susan Bodine considera mais um passo natural em sua trajetória internacional, associando-se à Netflix para dirigir a série Narcos, sobre o auge do Cartel de Medellín, com Wagner Moura no papel do lendário traficante Pablo Escobar (a estreia está prevista para 2015). "Ainda é um projeto sem corte final por contrato, mas já é uma experiência onde a autonomia está sendo maior. E as séries são um meio estimulante neste momento para um criador, alguém com a mente inquieta".