Referência
no mercado de
cinema no Brasil
A turma do entretenimento provavelmente usaria a expressão "put on a show" para descrever a participação do YouTube no palco do RioContentMarket nesta quinta-feira, dia 26. Um dos principais expositores da conferência, a empresa demonstrou de forma espetacular sua fome por estreitar os laços com o Brasil, o segundo maior mercado do site no mundo. Convocou seus principais executivos, mostrou vídeos, comandou entrevistas com criadores de canais locais e ostentou seu parceiro-celebridade no país, o apresentador Luciano Huck.
Com o promissor título de "O futuro do entretenimento", o programa lotou a principal sala de debates do hotel Windsor, na Barra da Tijuca. Embora os 90 minutos de apresentação tenham sido insuficientes para cobrir tamanha profecia, deu para sair dali ao menos com uma ideia do futuro que a empresa do Google imagina para si. Hoje bem mais ambicioso que a proposta original de hospedar vídeos no estilo faça-você-mesmo, o site investe em estúdios, mão de obra e intercâmbio como canais de TV para enriquecer seu conteúdo.
Uma dessas iniciativas é o YouTube Spaces, centro de formação de vloggers com escritórios em Nova York, Tóquio, Londres, Los Angeles e São Paulo. Ali, produtores de conteúdo aprendem em workshops e cursos não apenas como aperfeiçoar tecnicamente seus vídeos como a melhor maneira de se destacar nesta imensa selva digital. "Temos 300 horas de exibição sendo alimentadas no site por minuto no mundo inteiro. As pessoas que estão sendo ouvidas têm a vantagem de, na maior parte das vezes, não terem investido significativamente em marketing. Mas é como a Índia: lotado, confuso, cheio de informação. Uma pessoa encontrar seu público não é fácil", comparou Kelly Merryman (foto), vice-presidente de parcerias de conteúdo, recém chegada à empresa depois de uma passagem pelo Netflix.
Parceria com Luciano Huck em São Paulo
O YouTube desembarcou na capital paulista em outubro, depois de firmar uma colaboração com o Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, comandado por Luciano Huck na região do Bom Retiro. O centro de formação, voltado à capacitação de jovens da periferia para o mercado audiovisual, somava 1.600 profissionais preparados ali quando recebeu uma visita do todo-poderoso Google. "Foi um baque, porque a própria concepção do instituto não permite que ele cresça muito. Queremos formar gente que possa de fato ser absorvida pelo mercado e isso tem acontecido. Desses mais de mil alunos, 90% estão hoje empregados, ganhando uma média de cinco salários mínimos”, revelou Luciano.
Instalado na sede do instituto, o site trouxe novos equipamentos de filmagem e edição e começou a preparar seus vloggers lado a lado com os jovens de periferia. Aos convidados do Criar como Fernando Meirelles e Vik Muniz, passaram a se juntar ali autores de canais-fenômeno do YouTube como o gaúcho Ronaldo de Azevedo, criador das animações do Gato Galactico. “Esse contato trouxe o aprendizado para perto do dia a dia dos alunos. O Cueio (personagem do canal) é idolatrado por eles, os moleques piraram”, lembrou o apresentador.
Canais brasileiros estão entre os mais vistos
A força dos canais brasileiros, entre os mais vistos do site, foi festejada ao vivo pelos participantes. Kelly torceu o sotaque para mencionar sucessos como a “Galina Pintadicha” (Galinha Pintadinha, três milhões de assinantes) e Porta do Fundos (dez milhões de assinantes). Em seguida, subiram ao palco para uma entrevista ao vivo o jornalista Iberê Thenório, do canal de ciência e how-to Manual do mundo (três milhões de assinantes), e Glen Valente, diretor comercial e de marketing do SBT, que conta com mais de 1,4 milhão de seguidores.
O caso da emissora de Silvio Santos é um dos exemplos de como conteúdos do YouTube e da TV tradicional vêm sofrendo influência mútua. Recentemente, o vetusto canal passou a investir pesado em viralizar seu conteúdo nas redes, valendo-se de um acordo exclusivo de cooperação com o site. A estratégia nasceu de um sucesso inesperado, o do vídeo da pegadinha da menina fantasma do elevador, originalmente concebida para a televisão mas que encontrou na internet seu veículo ideal. “Hoje, todo esquete de pegadinha nosso já nasce com a ideia de viralizar, com um cuidado maior de produção”, disse Glen.
Também estão entre os mais assistidos do SBT Online os trechos do programa de entrevistas The Noite, com Danilo Gentili, que tem seu conteúdo despejado no canal online em pílulas, a exemplo de formatos americanos como o Saturday Night Live e o Ellen DeGeneres Show. “Existe uma discussão recorrente sobre a possibilidade de uma canibalização do offline pelo online. A verdade é que eles se retroalimentam. A TV aberta sempre vai ser poderosa, ela está em 97% lares do Brasil. Fico feliz de outros canais pensarem assim, sobram mais views para a gente”, provocou o executivo.
O caminho contrário, do YouTube para a TV tradicional, também é possível e tem sido mais frequente. Foi o caso do Porta dos Fundos, que ganhou um programa no canal a cabo Fox que reúne seus vídeos na internet. E do Manual do Mundo, hoje representado na TV por assinatura com uma série no Cartoon Network de conteúdo original. “O site é uma janela gigantesca e já estamos vendo vários subprodutos. Existem muitos modelos de negócios que podem surgir de um canal de sucesso”, defendeu Iberê, que leva sua empresa virtual a sério. “É difícil para o público se identificar com a TV, coisa que em um canal do YouTube é mais imediata. Passo horas por dia respondendo aos comentários. Recentemente, mudamos para um estúdio maior mas fizemos questão de deixar o cenário com cara de casa, para não nos distanciarmos do nosso público”, entregou.
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