Referência
no mercado de
cinema no Brasil
São Paulo e Londres, anos 90. Puberdade, colégio, intercâmbio, MTV, drogas, distúrbios alimentares... Resultado: o amadurecimento traumático de uma garota. Foi com a mistura desses elementos que a diretora Paula Kim garantiu uma vaga para seu projeto no Atelier da Cinéfondation, a oficina de novos talentos do Festival de Cannes. Diário de viagem (Butterfly diaries), uma coprodução Sam Ka Pur Filmes e Lacuna Filmes (Hoje eu quero voltar sozinho), é o primeiro longa-metragem de Kim e o primeiro trabalho brasileiro a figurar na lista desde a criação do programa, em 2005.
“Pessoalmente, ser a primeira brasileira é sensacional, é significativo. E eu acho legal ser mulher, e meu filme tratar de uma temática não essencialmente pertencente ao sexo feminino, mas feminina, porque fala de amadurecimento de uma garota. E, socialmente, essa experiência é vivenciada de uma maneira ainda muito distinta se comparada com a experiência masculina”, refletiu, em entrevista ao Filme B. Passado em uma época diferente, os anos 1980, o ainda inédito longa de estreia de Marina Person, Califórnia, é outro projeto recente que trata das dores do amadurescimento sob a ótica de uma protagonista adolescente.
Filha de imigrantes sul-coreanos, a cineasta paulistana ganhou seu primeiro prêmio aos 17 anos, no Festival Mundial do Minuto, com a animação Sexo explícito. Ao lado de Diários de viagem, três outros trabalhos – Chu mar, 26, Best Korean Girl e Gonnyon’s First Drive –, também garantiram o seu passaporte para festivais ao redor do mundo, como PalmSprings, Expresión em Corto, Festroia, Asian American International Film Festival, entre outros.
Para a 68ª edição do Festival de Cannes, que será entre 13 e 24 de maio, o Atelier selecionou 15 projetos de 14 países – apenas a Espanha obteve duas indicações –, com a proposta de estimular a produção de filmes criativos e incentivar o surgimento de uma nova geração de cineastas. Para isso, durante a oficina, os convidados participarão de diversos eventos e encontros com potenciais parceiros, sejam agentes de venda, distribuidores ou coprodutores.
Animada com os números do programa – dos 156 longas selecionados até hoje, 103 foram lançados nos cinemas e 40 estão em fase de pré-produção –, Paula espera encontrar um parceiro europeu que “realmente acredite no filme” e a ajude a amadurecer como cineasta. Segundo ela, o roteiro e os conceitos visuais e sonoros demandam bastante criatividade e disciplina, mas são coisas que, a princípio, ela consegue idealizar sozinha. Porém, produzir, gerenciar equipe e projeto e pensar no impacto dele no mercado é bastante diferente. “Sinto que participar do Atelier vai fazer parte dessa preparação de uma forma melhor do que eu teria previsto”, afirmou.
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