DATABASE BRASIL 20 ANOS

Apresentação

A Filme B completa 20 anos em 2017. Seus dados começaram a ser compilados e distribuídos semanalmente no Boletim Filme B, mais tarde foram reunidos em databases anuais e posteriormente deram origem a um banco de dados online, o Filme B Box Office. Todos esses produtos com particularidades diferentes se transformaram em fontes essenciais para o mercado.

Este Database Filme B 20 anos capitaliza uma oportunidade inédita de analisar o mercado por uma perspectiva de longo prazo deste significativo período, em que tivemos muitas transformações, sempre na direção ao crescimento.

Trazemos neste Database um conjunto de gráficos de evolução, comentados um a um, o que revela o conjunto virtuoso que o cinema no Brasil e o cinema brasileiro viveram nessas últimas décadas.

Apresentamos também um trabalho único sobre a evolução de público e de salas de cada empresa exibidora neste período, traçando um panorama do parque exibidor brasileiro como um todo.

Contém ainda a evolução de público e títulos lançados dos distribuidores (majors e principais independentes) ano a ano, desde 2001, com exceção das distribuidoras que surgiram mais tarde, como Imagem e Imovision.

E também a evolução de público e salas de cada estado brasileiro, ano a ano, desde 2001, quando começamos a compilar esses dados para o Database Brasil.

Todos esses gráficos só foram possíveis graças à consolidação do banco de dados do Filme B Box Office Brasil, que começou a existirem 2008. Isso sem falar nas constantes pesquisas e atualizações, pois a maioria dessas informações não está facilmente disponível e muitas delas precisam ser constantemente revistas.

Histórico

Na década de 70, o cinema brasileiro viveu um novo período de extrema importância para sua história, conquistando o mercado, e muitos produtores conseguindo autonomia financeira. Essa fase teve início em 1969, com a criação da Embrafilme, cuja política protecionista implementou um forte controle da informação e do mercado. Esta política inicia seu apogeu a partir de 1973, quando a empresa (de economia mista, mas controlada pelo Estado) passa a ser uma distribuidora de ação comercial, além de desempenhar o papel de incentivadora da produção e divulgadora do cinema no exterior.

A fase mais produtiva da Embrafilme durou até meados da década de 80, quando começou um processo de esvaziamento econômico e político que culminou com seu fechamento, em 1990. Neste ano, o presidente Fernando Collor de Mello determinou o fim de suas atividades.Todos os seus arquivos e bases de informação foram sucateados.

No início dos anos 90, o Brasil é submetido a um plano econômico que paralisou boa parte da economia brasileira, inclusive a produção cinematográfica. As dificuldades econômicas, somadas ao desmantelamento dos órgãos oficiais de apoio ao cinema (Embrafilme e Concine) e todas as outras formas de apoio à produção nacional, lançaram o cinema brasileiro numa de suas mais graves crises. Como consequência, em 1992 apenas três produções nacionais conseguiram chegar ao circuito. Um painel que só começou a se reverter após os escândalos que derrubaram o presidente e levaram à posse de seu vice, Itamar Franco. Durante o novo governo, estabeleceu-se a primeira tentativa de recuperação da produção cinematográfica com a criação da Lei do Audiovisual, desta vez com investimentos indiretos.

Baseada no modelo de renúncia fiscal, a lei se sustenta em dois dispositivos principais: um deles permite um abatimento no imposto de renda, e o outro, o investimento de parte do imposto de remessa de lucros em produções nacionais. Tendo a Lei do Audiovisual como âncora, e apoiando-se também em outras leis de incentivo federais, estaduais e municipais, o cinema brasileiro começou a recuperar sua trajetória em 1995, ano em que 11 produções nacionais foram exibidas nos cinemas. Começou aí uma nova fase da produção nacional, a dita "Retomada". A partir da metade da década de 1990, ganhou corpo um processo de reconquista do mercado interno e de recuperação do reconhecimento internacional do cinema brasileiro. Numa velocidade significativa, multiplicaram-se os títulos lançados, a frequência do público e os prêmios em festivais no exterior.

Retomada

O termo "retomada" marcou o reinício da atividade cinematográfica brasileira a partir de meados dos anos 1990, podendo-se ampliar sua abrangência para os setores de distribuição e exibição.

Nesse período, a produção de filmes nacionais se renovou, renovou sua qualidade técnica e se democratizou, permitindo que mais de 70 cineastas realizassem seus primeiros longas-metragens. A distribuição aprimorou seus mecanismos e soube exploraras formas de aumentar a penetração dos filmes no mercado. Mas a locomotiva dessa expansão está no setor de exibição, que, depois de anos seguidos de fechamento de salas, voltou a investir de forma agressiva, principalmente com a entrada das redes estrangeiras no país (em 1997, foi inaugurado o primeiro cinema do estilo multiplex do Brasil).

O período é marcado por mudanças profundas. Na produção nacional, as formas de financiamento, que nos tempos da Embrafilme eram diretas, agora são indiretas, por intermédio de mecanismos de renúncia fiscal. Na distribuição do filme brasileiro abandona-se o modelo estatal e adota-se a associação com distribuidoras privadas, principalmente as estrangeiras, que também se beneficiaram de mecanismos de incentivo fiscal.

Esse salto de qualidade recolocou o Brasil no cenário internacional de filmes, permitindo a participação nos mais importantes festivais internacionais, e ampliando sua penetração no mercado externo.

A produção nacional estabeleceu parcerias que melhoraram seu posicionamento no mercado interno. O artigo 3º da Lei do Audiovisual, ao possibilitar a participação das grandes distribuidoras estrangeiras (as majors) em produções nacionais, trouxe para o cinema brasileiro novas possibilidades de coprodução e infraestrutura de lançamentos.

Em resumo, o cinema começou os anos 1990 com uma crise gravíssima, em que seus mecanismos de produção haviam sido extintos e o parque cinematográfico se encontrava em decadência, e chegou ao fim da década com a retomada da produção, a distribuição fortalecida e o circuito de salas de cinema em grande expansão.

Ancine

A criação da Agência Nacional de Cinema (Ancine), em 2001, solidificou essa nova fase do cinema, com o fortalecimento de uma política cinematográfica, o início da reorganização dos bancos de dados e a regulamentação do mercado, que havia sido abandonada. A Ancine foi imaginada como um instrumento para levar adiante a afirmação do mercado cinematográfico no Brasil e com a meta da autossustentabilidade da indústria de cinema no país. Sua estrutura foi concebida para contemplar todos os setores da atividade, e não apenas a produção.

Entre outras medidas, a Ancine atualizou e regulamentou a Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), criou um programa de apoio a produções de caráter independente e passou a controlar o cumprimento da cota de tela para o cinema nacional.

Com uma lógica totalmente diversa das leis de incentivo fiscal – propondo que o dinheiro da própria atividade alimente a atividade – o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) trouxe muitas transformações para o financiamento do setor.

Começando a operar em 2008, o FSA é uma categoria de programação específica do Fundo Nacional de Cultura alimentado pela arrecadação da Condecine, por receitas de concessões e permissões e por receitas decorrentes de cobranças de taxas e multas, assim como do produto do rendimento de aplicações financeiras.

O Fundo, que começou a operar em 2008, tem como objetivo o desenvolvimento articulado do audiovisual brasileiro, estimulando a cadeia produtiva por meio de diferentes segmentos do mercado. Os recursos do FSA podem ser aplicados de três formas: por investimentos retornáveis; por empréstimos reembolsáveis; e por valores não-reembolsáveis. Do ponto de vista histórico, aliás, é a primeira vez que o Estado investe na atividade como um todo e de forma mais sistemática, contemplando não apenas a produção, mas também a distribuição e a exibição.

Hoje, a Ancine centraliza a política cinematográfica no Brasil, fazendo investimentos em todos os setores – exibição, produção e distribuição – regula mecanismos de políticas públicas, resgatou incentivos da época da Embrafilme, como o Prêmio Adicional de Renda, e criou novos, lançando diversos editais inclusive para novos segmentos, como o de games. Atualmente prepara uma regulação em consulta pública, para o video on demand no Brasil.

Seu maior desafio é reorganizar a informação, criar novas bases econômicas e estimular novas parcerias, permitindo assim um planejamento mais eficaz da produção e o consequente crescimento do cinema nacional como um todo, que, apesar da produção crescente, tem market share ainda bastante irregular.

Critérios / Fontes

A Filme B, desde sua criação, em 1997, vem coletando os números do mercado de diversas maneiras, até eles se tornarem cada vez mais completos e precisos, dando origem, em 2008, ao Filme B Box Office, um banco de dados que reúne informação de todas as salas de todos os exibidores do país. Na maioria das vezes usamos as informações consolidadas das distribuidoras como nossa informação final, e procuramos, sempre que possível, corrigir quaisquer distorções, ou seja, usamos fontes primárias (Filme B), secundárias (SEDCMRJ e distribuidoras) e terciárias (IBGE).

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