Referência
no mercado de
cinema no Brasil
A campanha de Ainda estou aqui (Sony) ao Oscar foi diferente, ou melhor, diferenciada.
Desde Central do Brasil, em 1999, também dirigido por Walter Salles, um longa brasileiro não era indicado à categoria de melhor filme internacional.
Agora, 26 anos depois, o Brasil foi indicado novamente. Ainda estou aqui, além de filme internacional, concorre ao Oscar nas categorias de melhor atriz e melhor filme, inédito para uma produção nacional. Mas não foi só isso que mudou. As redes sociais surgiram.
Historicamente, alguns eventos ou personagens históricos foram capazes de mobilizar nossa sociedade. Nos esportes, as Copas do Mundo, até 2002, as vitórias de Ayrton Senna e de alguns atletas olímpicos são os exemplos mais marcantes. Embora mais raro, o cinema brasileiro foi capaz de gerar sentimentos semelhantes em 1999, quando Central do Brasil concorreu ao Oscar; em 2003, com Carandiru; e em 2004, com Diários de motocicleta, os dois últimos, selecionados para o Festival de Cannes e lançados poucas semanas antes do início da mostra.
A campanha de marketing da Sony tem esta base, apresentada ao mercado na última Expocine: Ainda estou aqui é o Brasil no Oscar.
A tentação, sabiamente evitada, de lançar um filme político era óbvia. Afinal, Ainda estou aqui aborda os horrores da ditadura através de uma família de classe média. Houve até uma tentativa de boicote por parte da direita, que não vingou, porque brasileiras e brasileiros, independentemente de preferências políticas, gostaram de uma obra acima de tudo familiar.
O público se identificou com essa família que viveu uma tragédia e se emocionou com cada personagem. Os espectadores se identificaram, principalmente, com Eunice Paiva, a mãe e avó, esplendidamente representada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
Sua qualidade fez com que o filme tivesse participações importantes em vários festivais, como Veneza e a Mostra de São Paulo, e concorresse ao Globo de Ouro. Em seguida, vieram o prêmio para Fernanda Torres e as três indicações para o Oscar. Consequentemente, o sentimento verde-amarelo voltou – desta vez, por meio do cinema.
As redes sociais se mobilizaram a um ponto que os jurados do Oscar não podiam mais ignorar. Guillermo del Toro, Sarah Paulson, Ariana Grande, Karla Sofia Gascón, Alfonso Cuarón, Demi Moore, Tilda Swinton... Todos expressaram publicamente seu apreço por Fernanda Torres. Não há ninguém que não a elogie.
Os brasileiros são engajados na internet. Invadiram o perfil da Academia, e o retrato de Fernanda se tornou o post mais curtido da história da instituição (3 milhões de likes). Nunca se viu nada parecido.
A imprensa internacional percebeu o movimento. Fez entrevistas e postagens puxando pela Fernanda. Cada texto rendeu milhares de curtidas e compartilhamentos.
São quase 10 mil pessoas que votam no Oscar, entre atores, atrizes, produtores, publicistas, diretores e especialistas. São pessoas normais, como eu e você. Estão sujeitas à exposição de publicidade. Aí que a campanha entra.
Em 2025, os brasileiros fizeram algo histórico: alavancaram a imagem de Ainda estou aqui ao mundo. Alguns sites especializados dão vitória certa em melhor filme internacional. A Variety acaba de colocar Fernanda como favorita a melhor atriz. O prazo de votação terminou nesta terça-feira, 18.
A Sony Pictures e as distribuidoras internacionais fizeram, brilhantemente, o que tinham que fazer – sessões, conversas, publicidade. Mas esta edição do Oscar mostrou que os espectadores, motivados pelo sentimento nacional e pela adoração de artistas queridos, podem e devem fazer a diferença. Inclusive interrompendo o sagrado desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, em um domingo de Carnaval – se tudo der certo, para festejar.
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