Nova reunião entre roteiristas e estúdios de Hollywood não acaba nada bem

Nova reunião entre roteiristas e estúdios de Hollywood não acaba nada bem

Redação
24 ago 23

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Reprodução

Roteiristas em Nova York, na última terça

Não acabou nada bem a última reunião entre roteiristas e estúdios de Hollywood, na última terça-feira. Após mais de 110 dias da greve que paralisou a indústria totalmente, um acordo entre os grupos ainda parece longe de acontecer, empurrando o setor para uma crise cada vez maior — a curto e longo prazos.

O imbróglio teve um desdobramento importante nesta semana. A Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), associação que representa os produtores de cinema e televisão, divulgou uma lista de soluções oferecidas ao Sindicato dos Roteiristas (WGA, na sigla em inglês) para encerrar a greve. Esta lista foi apresentada numa reunião feita em 11 de agosto, mas revelada apenas na última terça-feira.

No documento havia propostas relativamente concretas, como o aumento do salário dos escritores, e, mais surpreendente, a garantia de um relatório trimestral com dados de audiência do streaming para ajudar os profissionais a guiarem os seus trabalhos.

O principal problema, ainda sem solução à vista, está na maneira como a Inteligência Artificial (IA) vai impactar os direitos intelectuais e de imagem (no caso dos atores) dos profissionais do setor. Hoje, ao alcance de um clique, a ferramenta ChatGPT, por exemplo, é capaz de criar um roteiro pronto para ser filmado.

Questões pendentes sobre IA

A partir disso, surgem as questões: a IA poderá ser usada por estúdios em detrimento dos escritores? Os roteiristas podem recorrer à tecnologia para desenvolver seus projetos? Se sim, até que ponto? A propriedade intelectual da obra vai pertencer a quem, afinal? E quem poderá explorá-la no futuro?

As respostas a essas perguntas vão depender de como a legislação americana encara a relação entre IA e direitos autorais. O tema, porém, ainda é muito novo e sujeito a debates. Até agora, o consenso é que um roteiro totalmente criado por Inteligência Artificial não tem nenhum dono, ou seja, é de domínio público. O material só passa a pertencer a alguém caso seja reescrito ou, pelo menos, substancialmente modificado por um ser humano.

A AMPTP garantiu aos roteiristas que vai seguir esta linha da legislação. Mas o WGA ainda considera genérica a solução. A instituição quer saber o quanto um texto desenvolvido artificialmente precisa ser manipulado para virar uma propriedade.

Roteiristas fazem duras críticas aos estúdios

Logo após a reunião de terça-feira, que, segundo a imprensa internacional, contou com a presença de Bob Iger (CEO da Disney), Ted Sarandos (Netflix) e David Zaslav (Warner Bros. Discovery), a AMPTP revelou publicamente a tal lista de soluções. O WGA não gostou nada disso. Considerou a divulgação do texto como uma tentativa de os estúdios influenciarem a opinião pública e pressionarem os roteiristas a aceitar as propostas.

"As ofertas não definem quem está fazendo um favor a quem", afirmou, à Hollywood Reporter, John Lopes, o integrante da WGA responsável pelas questões de IA. Em comunicado, o sindicato foi ainda mais taxativo: "Esta sempre foi a estratégia dos estúdios: em vez de negociar, querem nos atrapalhar. Querem que a gente se vire uns contra os outros."

Atores não conseguem reunião com AMPTP

Paralelamente, o Sindicato dos Atores (SAG) também segue de mãos cruzadas há mais de 40 dias. As reivindicações são semelhantes às dos roteiristas. A proibição para que os artistas divulguem seus filmes já prejudicou importantes campanhas de marketing, incluindo a de Besouro Azul (Warner) e, mais recentemente, a de Gran Turismo (Sony), que acaba de estrear nos EUA e no Brasil. A expectativa é que haja um vácuo de lançamentos a partir do fim de 2024.

Enquanto isso, milhares de profissionais estão sem trabalhar, passando por dificuldades financeiras e com diversos relatos de casos de depressão e ansiedade. Uma petição iniciada no Reino Unido já reuniu 25 mil assinaturas para que o governo desenvolva um fundo de ajuda a equipes forçadas a paralisar filmagens de coproduções com os EUA.

Duncan Crabtree-Ireland, representante do SAG, disse que vem tentando marcar um encontro com a AMPTP, mas não recebeu retorno. A última reunião foi em 12 de julho. "Desde então, silêncio total", afirmou.