Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Foram gastos R$ 340 mil em duas semanas de reforma intensa, mas a reinauguração do Ponto Cine, em Guadalupe, Zona Norte do Rio, promete fazer jus ao investimento. “Se antes já era bonito, agora vai ficar ainda mais”, comemora Adailton Medeiros, diretor e idealizador do cinema. Depois da troca de piso, pintura e muita limpeza, a casa reabre suas portas na próxima quinta-feira, 4, com direito a projeção 2k e novos sistemas de sonorização (Dolby CP750) e refrigeração. As 73 poltronas da salinha também foram repaginadas.
Fundado em 2006, o Ponto Cine é considerado a primeira sala de cinema digital do Brasil. Porém, há alguns anos, o espaço vinha sofrendo com a falta de modernização do imóvel. “Antes a gente usava projeção com as tecnologia Rain e Auwe [primeiros sistemas de projeção digital disponíveis no país, com resolução mais baixa]. Mas, com a padronização do DCP/DCI há três anos, tivemos que nos adequar às normas para não perder em qualidade”, explica Adailton.
A tarefa não foi fácil nem rápida. Captados ao longo de 18 meses, os R$ 340 mil vieram de três fontes principais: R$ 200 mil da RioFilme, via Prêmio de Digitalização; cerca de R$ 60 mil da Ancine, via Prêmio Adicional de Renda; e mais R$ 60 mil da Secretaria de Cultura, através do Prêmio Estímulo à Exibição do Cinema do Estado do Rio. A esse total, Adailton acresceu R$ 8 mil do próprio bolso e deixou o dinheiro render. “Aguardamos quase um ano e meio para conseguir fazer uma reforma geral”, comenta.
Flexibilição da programação
Na reabertura, o cinema de Guadalupe fará a pré-estreia do filme A esperança é a última que morre, com a presença do elenco encabeçado pela comediante Dani Calabresa. Curiosamente, as comédias foram o último gênero de filme a entrar para o catálogo do Ponto Cine, mais dedicado ao cinema de autor. “Sempre preferimos os documentários. Antes a gente nem exibia as comédias, mas aí percebemos que era importante, porque atrai outro tipo de espectador e o público daqui gosta muito”, diz o diretor.
A flexibilização da programação, na verdade, começou com uma história bastante curiosa, que aconteceu nos corredores do Ponto Cine. “Uma vez um rapaz reclamou comigo que a gente fala tanto de ditadura e não sei o quê, mas, pra ele, o maior ditador que existe é o programador de cinema. Foi aí que aprendi que preciso montar a programação junto com a plateia”, lembra.
Começo difícil
Em 2006, quando Adailton planejava abrir um cinema de rua em Guadalupe, foi tachado de maluco. Em um bairro pobre e abandonado, não havia a menor chance de um empreendimento desse tipo dar certo. Pelo menos era o que os outros pensavam.
A estratégia para conquistar um público desacostumado a ir ao cinema começou com um projeto chamado Tela Móvel: um carro equipado com tela e projetor rodava pelas ruas dos bairros adjacentes, exibindo os trailers dos filmes, enquanto oferecia pipoca para as pessoas do local. A vinheta de apresentação do Ponto Cine também virou uma marca do empreendimento: ao som do tema de Super-Homem, ouvia-se o lema “Mais barato que duas cervejas, mais barato que uma dúzia de ovos”.
Funcionou. O Cine Ponto começou com sessões em que iam apenas 10 ou 12 pessoas, mas hoje sua taxa de ocupação gira em torno de 53% por sessão - cerca de 39 lugares ocupados. “Disseram que aqui não tinha público para esse tipo de filme [de arte], tanto financeira quanto intelectualmente falando. Mas a verdade é que as pessoas estão muito a fim, só tem que ter oferta”, garantiu Medeiros. Para ele, cinema não pode se resumir a vender ingresso, pipoca, refrigerante. “A gente tem que vender sentimentos. Não sei nem se é questão de vender. Cinema tem é que juntar gente”.
Na quinta-feira, após a exibição do filme, quem comanda a festa é a bateria do Salgueiro, a partir das 21h. Vai dar samba.
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