O menino e o mundo é vendido para 80 países

O menino e o mundo é vendido para 80 países

Thayz Guimarães
14 jul 15

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Divulgação

O menino e o mundo: premiado em Annecy

O diretor de animação Alê Abreu era praticamente um desconhecido no exterior quando viu seu segundo longa, O menino e o mundo (2013), ser premiado em um dos eventos de animação mais importantes do mundo, o Festival de Annecy. De lá pra cá, já foram outros 150 festivais e 36 prêmios conquistados com o filme. O menino e o mundo foi vendido para 80 países, incluindo mercados importantes, como EUA, Canadá e Japão, onde ainda será lançado, e a França, onde está em cartaz há sete meses e possui, até o momento, o seu maior público, de 120 mil espectadores – quase quatro vezes mais que o obtido nos cinemas brasileiros (35 mil).

Em meio à boa fase, Alê conversou com o Filme B e disse que está muito contente com a performance de crítica atingida por seu segundo longa – o primeiro foi Garoto cósmico (2008) – e sonha com uma possível indicação ao Oscar. Ele também está trabalhando em um novo projeto, ainda sem título, mas novamente ambientado no universo infantil, que deve sair em coprodução com França e Luxemburgo.

O menino e o mundo foi visto por cerca de 35 mil pessoas no Brasil, em um circuito restrito a pouco mais de 10 salas nas primeiras semanas. Na França, o filme já está em cartaz há sete meses e o público já chega a 120 mil pessoas. Como você vê essa diferença?

Isso acontece porque o grande problema no Brasil é a exibição. Não sou especialista nesse assunto, estou falando na qualidade de um diretor que está em seu segundo filme, mas identifico que o país tem um problema de prateleira. Você chega com o seu produto, mas não tem prateleira pra ele. O exibidor escolhe produtos que ele tem certeza que terão um maior escoamento, porque sabe que as pessoas já estão acostumadas com aquilo, e muitas vezes existe toda uma campanha publicitária por trás. O menino e o mundo tem uma linguagem da cultura da animação e precisa ser visto por um público que está acostumado com esse tipo de linguagem. Quem está acostumado só com blockbuster tem dificuldade de entrar na fruição do filme.

Para você, o problema está na exibição, e não na distribuição?

Sim. Sempre tive grandes parceiros de distribuição no Brasil. O problema é o canal. O público vai a um canal específico, um cinema específico, não em busca desse ou daquele filme. Então, se o seu filme não está na prateleira daquele canal, daquele cinema, ele não será assistido. O menino e o mundo, por exemplo, foi lançado basicamente no circuito de arte do Circuito Espaço de Cinema.

Mas, apesar disso, do problema com os exibidores, o filme foi muito bem recebido tanto no Brasil como no exterior.

A recepção foi excepcional, tanto de público como de crítica. Na verdade, foi melhor do que eu esperava. No Brasil, ganhamos  prêmios e menções importantes e estivemos entre os cinco principais indicados [do Brasil] ao Oscar de filme estrangeiro. Na França, o filme foi lançado como o Top 3 da crítica, e isso na mesma época em que Samba, um filme super aguardado, estava sendo lançado. Sem dúvida, a França, até agora, foi o melhor mercado que a gente teve, mas o filme ainda vai ser lançado na Itália, no Japão e nos Estados Unidos, que são países que têm uma cultura de animação muito bacana. Nos EUA, o lançamento está previsto para setembro, já preparando para o Oscar. A G Kids [distribuidora americana] guardou O menino para a próxima edição do Oscar, porque para a de 2015 já tinha muitos filmes fortes, como o japonês O conto da princesa Kaguya e o irlandês Song of the sea.

O Brasil foi premiado nas últimas três edições do Festival de Annecy – em 2013, com o longa Uma História de amor e fúria; em 2014, com O menino e o mundo; e em 2015, com o curta Guida. Podemos falar num momento de consolidação da animação brasileira?

Acho que ainda é cedo pra falar em consolidação, embora a gente caminhe pra isso. O que dá pra falar é que está sendo criado um jeito, uma cara da animação no Brasil. Cada país tem seu jeito próprio de construir sua linguagem, e países que hoje possuem uma cinematografia forte de animação tiveram, em algum momento, essa visão. A França, por exemplo, tem um jeito muito particular de fazer animação, assim como os EUA e o Japão. Se você colocar qualquer cinéfilo ou alguém entendido em cinema de animação para assistir a filmes desses países, mesmo sem dizer de onde os filmes são, eles serão capazes de reconhecer, facilmente, a nacionalidade de cada um.

A que se deve essa “construção da linguagem” brasileira de se fazer animação?

A maioria dos diretores que estão aí hoje, inclusive levando seu trabalho para o mercado internacional, surgiram de investimentos feitos em curta-metragem. Nos anos 80 e 90, a gente estava fazendo curta, descobrindo nossa linguagem. O grande problema é que hoje não temos essa escola, porque os investimentos baixaram vertiginosamente. A ABCA [Associação Brasileira de Cinema de Animação] tem lutado para reverter esse quadro, porque não adianta os holofotes se virarem pra gente lá fora se daqui a pouco começarmos a apresentar produtos que estão aquém das expectativas.

Você está trabalhando em algum projeto novo?

Estou desenvolvendo um novo longa, desta vez sobre a força da amizade. O filme trata do encontro de duas crianças de países diferentes que estão em guerra. Diferente de O menino e o mundo, ele terá muitos diálogos. Também estou conversando com produtores da França e de Luxemburgo e existe uma possibilidade muito real de rolar uma coprodução com esses países.