Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Na noite de ontem, 23 de agosto, a Academia Brasileira de Cinema organizou a 22ª cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Tanto nos encontros preliminares quanto na cerimônia havia um clima de retomada apreensiva do cinema brasileiro. A presidente da Academia, Renata de Almeida Magalhães, traduziu bem o referido ambiente ao lembrar o evento do ano passado, quando a expectativa era que “dias melhores virão”, título do filme de Cacá Diegues, lançado em 1990. E hoje, ressaltou Renata, “dias melhores chegaram, mas ainda temos muito a fazer”, referindo-se à urgente necessidade de um novo marco regulatório para o audiovisual brasileiro.
Marcelo Calero, secretário municipal de Cultura, destacou os editais lançados pela RioFilme, cujos prazos de inscrição se encerram nesta sexta-feira. Lembrou as dificuldades enfrentadas pela empresa nos primeiros anos da atual gestão, quando a Cultura tinha a oposição dos governos federal e estadual, enquanto “no Rio havia o Crivela”. Depois de dois anos, a RioFilme está pronta para gerir o maior conjunto de editais da sua história. A Cidade das Artes é um espaço da prefeitura, uma das principais patrocinadoras do evento, através da sua empresa de cinema.
Durante a cerimônia, nos discursos de agradecimentos pelos prêmios, muitas manifestações pela Cota de Tela nos mercados de cinema e TV por assinatura; pela regulação do setor de streaming; e apelos por uma solução na questão dos direitos autorais, ora em negociação, entre as entidades de radiodifusão e dos artistas, no Congresso Nacional. Essas declarações refletem a apreensão do setor face às dificuldades enfrentadas pelo conjunto do audiovisual brasileiro, seja no financiamento seja, principalmente, na colocação dos filmes nos mercados, a começar pelo cinematográfico. Isso sem falar da vital defesa da produção independente, detentora dos direitos de propriedade, hoje ameaçados pelo modelo de negócio adotado pelas plataformas de streaming ao financiar a sua produção.
Foi uma noite dedicada ao documentário brasileiro, gênero fundamental na nossa produção. Imagens de filmes clássicos pontuaram a cerimônia, desde “Uma vista da Baía da Guanabara” (1898), a primeira filmagem feita no Brasil por Afonso Segreto, até documentários contemporâneos. A Academia homenageou dois expoentes do campo documental: o jornalista, crítico e gestor cultural Amir Labak, fundador e curador do evento É Tudo Verdade: Festival Internacional de Documentários, criado por ele em 1996; e o professor e cineasta Vladimir Carvalho, um dos principais documentaristas brasileiros, que recebeu seu troféu do irmão, também cineasta, Walter Carvalho.
Outro momento tocante foi a projeção das fotos dos profissionais do audiovisual que nos deixaram desde a última premiação. Entre eles, Tiago Marques, diretor de arte, aliás indicado por Eduardo e Mônica e Medida Provisória; o rei; José Celso Martinez Corrêa e Léa Garcia. O rei? Sim, Pelé.
Em termos de premiação, Marte Um, de Gabriel Martins, foi o grande vencedor. Conquistou oito troféus, incluindo melhor filme, direção (Gabriel Martins), roteiro adaptado (Gabriel Martins), ator (Carlos Francisco) e ator coadjuvante, para Cícero Lucas, um dos mais aclamados, cuja emoção sensibilizou a todos. Um filme de fato excepcional que confirmou, na escolha dos membros da Academia, sua qualidade.
Foi um belo evento da produção brasileira, sendo notável, entretanto, a ausência na plateia de distribuidores e exibidores.
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