Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Prestes a deixar o cargo em quatro meses, após 15 anos de gestão na Ancine, o diretor-presidente Manoel Rangel aproveitou seu debate na 20a Mostra de Tiradentes para tentar tranquilizar os produtores independentes do festival quanto a um possível desmantelamento das políticas de fomento da agência. O tema tem provocado apreensão entre os profissionais do cinema e TV. "Estou acostumado que riam do meu otimismo. Mas vejo um setor audiovisual fortalecido, com consciência de tudo o que conquistou, e uma onda enorme de simpatia pelo audiovisual brasileiro, com 12 filmes em Berlim, 15 em Roterdã e um no Sundance", afirmou.
Rangel se recusou a comentar sobre seus possíveis sucessores – o nome de Sérgio Sá Leitão, ex-diretor da Riofilme, é um dos mais cotados. “O que vocês querem saber eu também gostaria de saber”, brincou. Em vez disso, apresentou os fatores que o levam a crer na solidez das políticas hoje em vigor, em especial o Fundo Setorial do Audiovisual – só o programa Brasil de Todas as Telas distribuiu mais de R$ 2,5 bilhões nos últimos três anos para a produção de longas, curtas, séries e programas de TV.
O FSA e outras políticas estariam blindados às mudanças políticas pós-impeachment de Dilma Rousseff? "Existe a confiança de que se construiu algo compactuado com todo mundo, do DEM ao PSOL. Houve conflito, troca de tapa, mas no fim as leis foram aprovadas por unanimidade. A mais disputada, a Lei da TV Paga [que estimula um mínimo de horas de programação nacional por canal] foi bloqueada por um tempo, mas depois aprovada no Senado com esmagadora maioria. Ou seja, houve um acordo, e tudo foi feito às claras”, lembra.
De volta a 1975
Entre os números do setor citados por ele está o salto no número de salas de cinema no país – de 1.635 em 2002, ano de criação da Ancine, para 3.160 hoje, incluindo pequenos cineclubes. Segundo as contas de Manoel, faltam 115 salas para o Brasil igualar o recorde histórico de 3.275 salas que havia no país em 1975.
O diretor da Ancine reforçou que o presidente Michel Temer anunciou no fim do ano passado que pretende renovar os incentivos do setor. “Sempre fomos capazes de mobilizar os presidentes para a importância da política audiovisual. A Lei do Audiovisual teve o apoio de Itamar Franco, a criação da Ancine foi gestada no governo FHC, o FSA e a ampliação dos recursos tiveram apoio do governo Lula, e a Lei da TV Paga não sairia sem a ação decisiva da presidente Dilma", recorda. "Precisamos ter uma política de Estado como na França, onde se alternam a direita e os socialistas, mas o CNC [Centro Nacional de Cinematografia] já leva 70 anos de existência. Eu reivindico a mesma lógica para o Brasil."
Por fim, Rangel falou dos próximos desafios da Ancine que devem ficar para seu sucessor. "É hora de enfrentar o marco regulatório do vídeo por demanda, esta é hoje uma questão urgente. E é preciso ter uma política para os jogos eletrônicos. Vocês talvez se perguntem o que isso tem a ver com o audiovisual, mas este é um dinheiro que o país manda pra fora todo dia quando poderia reter aqui”, explicou.
*O editor-assistente viajou a convite da organização do festival
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