Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Distribuído pela Europa Filmes, Ninguém ama ninguém... Por mais de dois anos estreia hoje, em 63 salas do Brasil, com uma missão bastante distinta: apresentar ao público os textos de Nelson Rodrigues da forma como ele realmente os fez, sem os maneirismos comumente empregados nas ficções baseadas em sua obra. “Fui fiel ao que ele escreveu e tivemos o cuidado de não produzir um filme canalha. Acho até que pode desapontar aquele camarada que nunca leu o Nelson, e apenas o viu no cinema ou no teatro”, brincou Clovis Mello, diretor do filme.
O longa é baseado em cinco contos de A vida como ela é..., coluna diária mantida pelo cronista carioca no jornal Última Hora, nos anos 1960. No filme, ganham vida os personagens de Coroa de orquídeas; Despeito; Vendida; Rainha de Sabá; e Infidelidade (ou Segundo marido). A história se passa entre as décadas de 50 e 60, e acompanha a vida íntima de cinco casais, que precisam se equilibrar entre o forte moralismo da época e a vontade de dar vazão a todos os seus desejos. Gabriela Duarte, Luana Piovani e Marcelo Faria estão no elenco.
De acordo com Raul Doria, produtor do filme, foram gastos R$ 6 milhões, incluindo os R$ 400 mil dedicados à publicidade. Do valor total, apenas uma pequena parcela (R$ 580 mil) foi proveniente de investimento público, através dos editais da ProaC, da Secretaria de Cultural de São Paulo. Esta é a primeira ficção em longa-metragem dirigida por Clovis Mello, mais conhecido no mundo da publicidade – é dele boa parte dos comerciais das Havaianas que você já viu –, e responsável pelo documentário Coração vagabundo (2008).
Para Raul, filmar Nelson Rodrigues hoje é um verdadeiro desafio comercial, porque os textos do cronista sofrem diversas restrições, principalmente do ponto de vista de captação de dinheiro. “Tentamos também o Artigo 1°A [da Lei do Audiovisual] e a Lei Rouanet, mas não fomos aceitos”, comentou. Segundo Clovis, a falta de interesse nesse tipo de projeto está na possível restrição de público, que vê Nelson Rodrigues apenas como um devasso. “Por questões até mesmo de sobrevivência, as distribuidoras priorizam os filmes voltados para toda a família, e uma obra como a de Nelson Rodrigues, na teoria, não se enquadraria nesse grupo”, explicou.
Sem apelo à nudez
Em 1978, mais de 6,5 milhões de pessoas correram aos cinemas para assistir A dama do lotação, outra adaptação de Nelson para os cinemas. Dirigido por Neville D’Almeida, o filme tinha como trunfo a nudez de Sônia Braga, sex symbol brasileira da época. Quase quarenta anos depois, Ninguém ama ninguém... prefere apostar numa fórmula mais “sóbria” para conquistar seu público.“Fiz um filme muito pouco erotizado, sem sexo explícito, no qual as transas são todas sugeridas, e não me arrependo”, afirmou Clovis.
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