Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Antes do estouro de bilheteria das comédias nacionais em 2006 com Se eu fosse você, o gaúcho Jorge Furtado já tinha assinado dois longas do gênero com sucesso de público: O homem que copiava (2003), com 664 mil espectadores, e Meu tio matou um cara (2004), com 591 mil.
Há oito anos sem dirigir um longa de ficção, ele volta agora com um drama, Real beleza, sobre a incansável busca de um fotógrafo pela modelo perfeita pelas pequenas cidades do Rio Grande do Sul, que estreia nesta quinta.
Estrelado pelos globais Adriana Esteves e Vladimir Brichta, Real beleza teve um orçamento de R$ 2,4 milhões, com patrocínio do BNDES, Eletrobras, a rede de farmácias gaúcha Panvel, o Fundo Setorial da Ancine (na distribuição) e coprodução da Globo Filmes. A distribuidora Elo Company deve lançar o título em cerca de 40 salas em todo o país.
Leia a seguir entrevista com o diretor.
Este é o seu primeiro longa de ficção em oito anos – mas no período você dirigiu vários projetos para a TV, como a série Doce de mãe. Está mais fácil fazer TV do que cinema?
Nunca parei de fazer TV; trabalho continuamente na Globo desde 1989. Levei muito tempo preparando o [documentário] O mercado de notícias – foram três anos traduzindo a peça na qual ele foi baseado, mais três anos de produção. Cinema é assim, tu nunca sabe quando a produção vai se viabilizar. Mais o difícil mesmo é conseguir exibir. Real beleza está pronto há um ano, levamos um tempo para encontrar um bom distribuidor.
Você é muito cobrado a voltar a fazer comédias?
Até que não... Eu acabo trabalhando muito as comédias na TV. Esta semana a Globo começa a gravar Mister Brau, uma série de comédia com o Lázaro Ramos que eu escrevi.
Você assiste às comédias nacionais? Gosta?
Não costumo assistir, não me interesso muito. Não vi todas pra entrar em detalhes, mas as poucas experiências que eu tive... Não sei, acho tudo muito fácil. Não gosto de escatologia, piadas com gays, vibrador, essas piadas mais preconceituosas. Confesso que não é muito o meu estilo.
Mas, com o sucesso das comédias hoje, um filme como Meu tio matou um cara não seria lançado num circuito maior do que há 11 anos [o longa estreou em 2004 com 121 cópias]?
Muito provavelmente. Pois é, estou sempre na contramão. Quando eu fazia comédia, ninguém fazia, e agora... (risos) Mas tenho um projeto de comédia para cinema agora, está no início.
Você vê pouco interesse do público pelos dramas brasileiros?
Acho que vai haver sempre espaço para os dois. Comédia ou drama, eu sempre tento fazer um filme que dialoga com o público. Todos os meus filmes tiveram público razoável e se pagaram. Nenhum deles é um blockbuster, mas fizeram bom público. O que sinto é que está faltando um filme intermediário, que não seja nem muito pequeno nem muito grande. Real beleza pode dialogar com um público mais cinéfilo, mas também pode atrair um outro espectador que gosta de romance.
O homem que copiava (2003) e Meu tio matou um cara (2004) fizeram em torno de 600 mil espectadores, enquanto Saneamento básico – O filme (2007) fez 190 mil. Por que este último, apesar de também ser uma comédia, atraiu menos público?
O filme tinha um elenco estelaríssimo [Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Lázaro Ramos]. Mas tinha um tema um pouco árido, com metalinguagem. Eu gosto do título, mas alguns espectadores vieram me dizer que esperavam um documentário com esse nome. Também já me falaram que, se eu tivesse chamado de O monstro do fosso, teria chegado a 1 milhão de espectadores (risos).
Quais os seus próximos projetos?
Estou escrevendo para a Globo mais uma série, País do futuro, em parceria com o Guel Arraes e o João Falcão. É sobre os bastidores da criação de uma das primeiras emissoras de TV do Brasil nos anos 50. É uma emissora fictícia, como se fosse uma grande concorrente da TV Tupi. O elenco já tem Murilo Benício, Débora Falabella e Daniel de Oliveira.
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