Referência
no mercado de
cinema no Brasil
A pandemia provocou a reformulação de diversas lógicas do setor audiovisual, incluindo a de competição entre exibidoras e streaming. A diminuição da janela de exclusividade theatrical pelo mundo é um exemplo disso. E, na França — um país com leis reconhecidamente mais rígidas em relação ao VoD e às salas de cinema —, uma nova amostra dessa reconfiguração vem na forma de parceria entre a Netflix e a exibidora Pathé, que opera mais de mil salas pela Europa, e que também atua na produção e distribuição de filmes.
O primeiro resultado desse trabalho conjunto aconteceu em 2021: o lançamento direto no streaming de Mais que amigos: vizinhos. A comédia francesa sobre a pandemia foi produzida pela Pathé e completamente financiada pela gigante do streaming, que também deteve todos os direitos sobre a obra.
Apesar disso, o presidente da Pathé, Ardavan Safaee, falou ao Deadline que a experiência com a Netflix foi bastante positiva. “Estamos pensando em propriedades intelectuais, livros e ideias que podemos desenvolver com plataformas de streaming.”
Vale lembrar que, em outros tempos, uma parceria entre uma rede exibidora da França e a Netflix seria praticamente impensável, dadas a cultura e a política de proteção do país às cadeias de cinema.
Além da parceria com a Netflix, a Pathé também firmou acordo de um título com a AppleTV+ recentemente, no qual a plataforma comprou No ritmo do coração (distribuído no Brasil pela Diamond/Galeria) por US$ 25 milhões, mesmo após o longa já ter distribuição theatrical garantida.
Novas dinâmicas reformulam leis do setor
Essas novas dinâmicas protagonizadas pela Netflix e os cinemas vêm refletindo nas leis que organizam o novo cenário. Em janeiro, a gigante do streaming entrou em um acordo com o setor para diminuir de 36 para 15 meses a janela de exclusividade theatrical dos filmes, um movimento extremamente significativo para um país como a França, que sempre teve políticas de proteção à produção local. Em contrapartida, anualmente, a plataforma deve produzir pelo menos dez longas locais, em um investimento de cerca de US$ 45 milhões.
“Trata-se de encontrar o equilíbrio certo entre a janela e o quanto a Netflix contribuirá para o mercado. Espero que plataformas como a Disney [que assim como a Amazon não participou do acordo com o setor], nos próximos anos, coloquem mais dinheiro na mesa para filmes franceses e, por sua vez, sua janela diminuirá”, afirma Safaee, presidente da Pathé.
Produção para o cinema deve se concentrar em blockbusters
Os picos de bilheterias relacionados ao desempenho de grandes títulos também é um novo critério para a Pathé, que pretende focar seus esforços de produção em blockbusters. Em entrevista ao Deadline, o presidente da empresa revelou que ao invés de produzir uma média de 15 a 16 longas por ano, a Pathé agora deve desenvolver entre oito e dez grandes títulos.
Isso porque, de acordo com Safaee, presidente da empresa, o momento é para trazer as pessoas de volta aos cinemas e proporcionar a elas uma experiência diferente do mar de opções que elas têm em casa.
Além disso, o executivo conta que títulos médios, que vendem cerca de 200 mil e 300 mil ingressos, vêm enfrentando dificuldades nas salas. “Talvez em alguns dos projetos menores e de qualidade faça mais sentido trabalhar com uma plataforma de streaming", analisa Safaee.
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