Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Os franceses Eric Toledano e Olivier Nakache eram ilustres desconhecidos fora de seu país até 2011, quando uma comédia simples sobre amizade, Intocáveis, estourou nas bilheterias do mundo todo. A produção tornou-se o filme local mais visto na França, com 20 milhões de espectadores, batendo o recorde que era de Amélie Poulain. Foram mais 23 milhões no resto do mundo, dos quais 1,1 milhão no Brasil. A bilheteria global ficou na casa dos US$ 426 milhões. Harvey Weinstein comprou os direitos para um remake americano, mas o projeto ainda não saiu do papel.
O novo filme da dupla, Samba, história de amor entre uma assistente social francesa e um imigrante senegalês, conduzido em tom leve mas longe da comédia, teve resultados mais modestos - 3 milhões de espectadores na França, com uma bilheteria local de US$ 22 milhões -, mas está longe de ser um fracasso: foi o quinto filme francês mais visto no mercado local no ano passado.
No Rio, para apresentar Samba no Festival Varilux de Cinema, eles relembraram a trajetória dos dois filmes.
Como foi a estratégia de lancamento de Intocáveis na França? O número de salas foi aumentando a cada semana?
Não sei se é assim aqui, mas na França fazemos uma grande turnê do filme pelo interior, para tomar o pulso do filme e ver quantas entradas são vendidas nas avant-premieres. A partir disso, o distribuidor determina o número de cópias. Quando há uma demanda grande, as cópias aumentam a cada semana. Intocáveis começou com 500 cópias no país e terminou com 800. Havia uma ideia de lançar maior, acabamos reduzindo, mas a média de entradas por sala foi altíssima, com muitas sessões lotadas - cerca de 3 mil espectadores por cópia a cada semana. Por isso o filme foi ganhando mais circuito. O número de 20 milhões de ingressos foi fora do normal para o mercado francês.
Desde que a contagem de público começou na França, em 1945, Intocáveis foi o terceiro longa mais visto de todos os tempos no cinema, atrás apenas de Titanic, em 1997, e da comédia francesa A Riviera não é aqui (Bienvenue chez les Ch'tis) - que não é tão bom quanto o nosso - em 2008. Em Paris, é o primeiro da lista.
E como foi a estratégia de lançamento internacional de Intocáveis?
A Gaumont vendeu o filme internacionalmente - a brasileira Califórnia Filmes distribuiu para a América do Sul. No mundo todo, os distribuidores marcaram no pôster: "o filme que fez 20 milhões de público na França", etc. O curioso é que, no mercado francês, o marketing do filme decidiu tirar a cadeira de rodas do pôster porque achava perigoso - o público não iria ver um filme sobre um cadeirante. Desde que atingimos a marca dos 15 milhões no país, outros decidiram incluir a cadeira no pôster. Às vezes temos medo de lançar um filme de uma maneira, mas se ele é bom e agrada o grande público não há o que temer.
Em quais países o filme foi melhor?
Em primeiro, na Alemanha, com quase 10 milhões de ingressos. Fora da Europa, o filme estourou na Coreia do Sul (1,8 milhão de ingressos) e no Japão (1,5 milhão). Na América Latina, o público foi de 1,5 milhão no México e 1,1 milhão no Brasil.
Em algum país o filme foi mal?
Sim. Na Rússia. Lá o filme não funcionou muito bem. Penso que os russos de hoje não têm muita sensibilidade para temas como o dos deficientes físicos e a diferença racial ou social.
E como foi a estratégia para Samba, um filme de tom mais melancólico que Intocáveis, mas que foi o quinto filme nacional mais visto de 2014 na França?
Se tirarmos o filme do Luc Besson [Lucy, com Scarlett Johansson], uma produção internacional falada em inglês, ficamos em quarto. Mas foi um ótimo resultado - fizemos 3,1 milhões de entradas.
Claro, temos que considerar que Samba tem um tema menos encantador. Ele abriu grande na França, em 580 salas. O risco que a gente corria, de as pessoas se darem conta de que não era um segundo Intocáveis, de que o tema era mais duro, e não recomendarem o filme aos outros, não aconteceu. Penso que o trailer enviou um bom sinal do que era o filme. Fizemos 900 mil espectadores na primeira semana e terminamos com o triplo disso, o que demonstra que o boca a boca foi bom.
É preciso lembrar que Omar Sy [o cuidador de Intocáveis e protagonista de Samba] é uma das três personalidades mais queridas dos franceses, junto com o Zidane e o cantor Jean-Jacques Goldman.
Samba já foi lançado no mundo todo e estreia agora no Brasil. Vocês sentiram uma recepção diferente de Intocáveis?
Não. O tema da imigração em Samba é uma questão presente hoje no mundo todo. Não é a Paris de Amélie Poulain, por exemplo. É algo universal. O filme foi muito bem acolhido na Espanha, Holanda, Itália, Polônia e Israel. Mas estamos confiantes de que vai ser um sucesso no Brasil. Temos Jorge Ben na trilha!
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