Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Qual é o impacto da chegada dos gigantes do streaming, como Netflix e Amazon, na distribuição internacional de filmes de autor? Essa foi uma das grandes questões debatidas no mercado do Festival de Berlim, que terminou há alguns dias.
Desde o início do ano, no Festival de Sundance, a Netflix tem se mostrado mais agressiva na compra de filmes em língua não inglesa. Muitas vezes, o longa já estreou no seu país de origem, mas terá seu lançamento internacional na plataforma de VoD – eliminando a etapa em que o longa seria representado por um escritório de world sales, que o negociaria país por país com distribuidores locais de cinema.
Nos EUA e em todo o mundo, o mercado de cinema de autor (ou arthouse, como dizem os americanos) vê seu público encolher, e os espectadores mais jovens preferem ver online filmes menores, reservando o ingresso do cinema para os blockbusters cheios de efeitos especiais. “Um acordo com a Netflix pode ter muito apelo para filmes pequenos que não teriam muito fôlego nos cinemas”, disse um produtor francês à Variety.
Do Chile para a internet
Entre os diretores e produtores de filmes que almejam festivais como Berlim e Cannes, o fato de um projeto não receber a campanha de marketing tradicional do lançamento em salas pode não ser um fator fundamental. “Os algoritmos de recomendação da Netflix são hoje a melhor maneira de se descobrir filmes novos do mundo todo”, diz o cineasta chileno Nicolás López. Ele dirigiu a comédia Sin filtro, um dos maiores sucessos de bilheteria no Chile este ano, que foi comprado pela plataforma de SVoD para lançamento em outros mercados.
Uma das perguntas que o mercado se faz agora é qual o apetite de Netflix, Amazon e outros players para comprar projetos em etapas cada vez mais iniciais de produção. “Por enquanto, a Netflix só está comprando filmes prontos. Se começar a pré-comprar filmes ainda na fase do roteiro, tem força suficiente para me tirar do mercado”, prevê o distribuidor italiano Valerio de Paolis. Para o agente de vendas Rikke Ennis, da dinamarquesa TrustNordisk, esse passo é questão de tempo para as gigantes do VoD, e deve levar de três a cinco anos. “A princípio, um produtor pode procurar a Netflix diretamente. É cada vez mais crucial emplacar os projetos o mais cedo possível nessas plataformas”, afirma.
Mais visto, menos visto
O diretor belga Felix von Groeningen, diretor do drama Alabama Monroe e do novo Bélgica, premiado em Sundance, parece resumir o sentimento dos diretores de filmes pequenos sobre a nova realidade. “Tenho visto cada vez mais filmes fora de uma sala de cinema. É a maneira ideal de se ver um filme? Não. Mais pessoas têm chance de ver seu filme desse modo? Sim.”
Sabe-se hoje que a Netflix paga aos diretores mais do que eles ganhariam se seus filmes fossem vendidos país por país. Mas vale lembrar que nem todas as companhias que operam streaming pulam a etapa das salas: a Amazon, por exemplo, planeja lançamentos nos cinemas para seus filmes nos EUA que respeitam janelas de até 90 dias antes do online.
Mas o abalo sísmico do streaming no mercado não deve ser subestimado. Se os cineastas comemoram esses novos players, distribuidores e agentes de vendas já começam a se apressar para embarcar o mais cedo possível em novos projetos, muitas vezes abraçando a função de produtores, para fazer frente à nova (e gigantesca) concorrência.
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