Diretor de O som ao redor, projeto autoral de maior sucesso recente no cinema brasileiro, com 96 mil espectadores, o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho se prepara para filmar em agosto seu novo longa-metragem.

Novamente ambientado no bairro da Boa Viagem, em Recife, Aquarius é centrado na vida de Clara, uma viúva de 65 anos de classe média alta, crítica de música aposentada. Recuperada de um câncer, ela tem três filhos e vive num belo apartamento à beira-mar. Kleber o define como “um melodrama familiar que pode ser lido como um thriller”. “O apartamento dela é como um arquivo da sua vida. Ela vive um choque constante entre realidade e memória”, explica ele.

O título faz referência aos nomes que os prédios da orla do Recife recebiam antigamente, sempre ligados ao mar, como Nauticus, Dolphin ou Marlim. “Hoje eles recebem outro tipo de nome: Coconut Grove, Ocean Residence. A orla do Recife reúne salva-vidas, traficantes, putas, famílias, crianças... Um medo constante de tubarão, ocorrências de afogamento, a integração racial... Sujeira, camisinhas”, descreve.

A atriz que deve viver Clara ainda não foi escolhida - Kleber está em pleno processo de casting, entre atrizes pernambucanas e de fora do estado. O orçamento de sua produtora, a Cinemascopio, é de R$ 2,5 milhões – “o mesmo valor do Som ao Redor, atualizado pela inflação”, diz o diretor.

Kleber passou Aquarius à frente de um projeto anterior, Bacural, nome dado ao último ônibus da madrugada no Recife. O filme será ambientado numa cidade pequena do interior de Pernambuco marcada pelo cangaço no passado. Num futuro próximo, o filme mostra uma menina tranquila de 15 anos que, por conta de um incidente, revela um comportamento violento. “É um filme sobre o poder do passado no nosso presente. Me interesso pela capacidade de se fazer violência pela herança genética de um povo", conta ele, citando uma estatística: no ano passado, 56 mil pessoas foram assassinadas no Brasil.

O som ao redor estreou comercialmente em nove países além do Brasil: EUA, Franca, Holanda, México, Argentina, Portugal, Inglaterra, Polônia e Canadá. No Brasil, abriu com 13 cópias no Rio, São Paulo e Recife, e nas semanas seguintes expandiu para 32 cópias, incluindo outras cidades. O lançamento misto contou com nove cópias 35 mm e outras digitais. “Gostaríamos de ter lançado mais em digital, mas boa parte das salas estava ocupada com De pernas pro ar 2 e uma animação da Pixar”, lembra o diretor.