Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Tomando emprestado o subtítulo acima do filme Bardo, de Alejandro González Iñárritu, que teve exibição quase despercebida nos cinemas no final de 2022 e agora disponível na Netflix, arriscamos alguns palpites sobre o momento atual, seguindo a onda de sentimentos e delírios provocada por este filme que nos invade com suas cenas absolutamente surrealistas, “modernamente” chamadas de distópicas. Cotada a princípio como concorrente em outras categorias do Oscar, esta genial obra do cineasta que faz parte da trinca de brilhantes realizadores mexicanos, formada por Iñárritu, Alfonso Cuarón e Guillermo del Toro, encontra-se restrita a disputar a premiação de melhor filme internacional, competição acirradíssima entre vários títulos de alta qualidade, o que significa que Bardo poderia ficar sem qualquer premiação nesta edição do Oscar, o que seria uma pena. O filme é imperdível.
Ao contrário do que se poderia prever, os filmes que estão concorrendo às várias categorias do Oscar são de altíssimo nível, inclusive os dois blockbusters da lista: Top Gun - Maverick e Avatar - O caminho da água. E não será surpresa a premiação de um deles ou dos dois fora das categorias meramente técnicas, como vem acontecendo nos últimos anos. É o que a imprensa especializada está dizendo. Ou seja, bem diferente do que se esperava, este ano acabou nos trazendo no mínimo estes dois grandes sucessos de público.
Além disso, aquele gosto amargo que 2022 estava nos deixando, de que o espectador teria abandonado as salas de cinema de arte pela falta de filmes de qualidade, vai se desfazendo, e esta seleção do Oscar deste ano, além de outros filmes nos cinemas com bilheterias generosas e boas críticas, nos trazem uma nova esperança.
É claro que nada está definido ainda, pois existe no ar uma sensação de que o streaming venceu e de que a preguiça nos dominou, tirando-nos aquela vontade de sair de casa para assistir a um filme nos cinemas, hoje considerada uma aventura que o custo-benefício nos faz preferir não arriscar. Será que ficando em casa assistindo a um dos nossos streamings preferidos estamos, sem perceber, repetindo o que já fizemos nos anos 90, até chegarmos às prateleiras dos títulos envelhecidos das videolocadoras?
É claro que o streaming tem seu lugar em nossas vidas e nos permite assistir coisas fantásticas, que nunca assistiríamos no cinema. Séries, documentários, shows musicais, e até filmes que seriam impossíveis de serem exibidos nas salas. Além do mais, a existência do streaming torna possível a produção de filmes e destes produtos que os estúdios de cinema de Hollywood ou as próprias cinematografias locais de cada país não teriam capital para fazer.
Estamos entrando em 2023 com vários motivos para comemorar. A volta do público em massa aos cinemas para assistir a seus blockbusters preferidos, e a volta dos filmes de qualidade do Oscar, que poderão ajudar a trazer aos cinemas de arte, e até a alguns multiplex, o público mais adulto que vinha se recusando a frequentá-los.
Não será um retorno fácil, mas alguns sucessos poderão se multiplicar. Esperamos que os produtos brasileiros aconteçam também em 2023, desde que apoiados pelo Fundo Setorial, conforme prometido.
Quando começamos a fazer este texto na semana passada, nossa realidade não nos deixava otimistas como estamos agora. Fomos desestimulados por uma frase que quase decretava o fim do cinema, e que foi publicada no Deadline: “Isso não pode estar certo. As pessoas mais importantes escreveram ou vêm falando que a experiência no cinema de assistir filmes está morta, e que a melhor maneira de se lançar um filme agora é em blocos de dois minutos no TikTok.”
O atual panorama de reestruturação das empresas de tecnologia, que tem provocado demissões em massa, nos faz acreditar que ainda vai demorar muito para a sala de cinema se tornar um terreno baldio.
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