Referência
no mercado de
cinema no Brasil
A Art House Converge, organização que congrega uma rede de 600 cinemas de arte dos Estados Unidos, incluindo cadeias conhecidas como a Drafthouse, divulgou uma carta pública questionando o modelo da Screening Room, start-up que pretende promover lançamentos day-and-date (simultâneos) de filmes no cinema e nas casas dos espectadores. Criada por Sean Parker (ex-Napster) e Prem Akkaraju, a empresa tem conquistado apoios de nomes importantes da indústria ao mesmo tempo em que deixa um rastro de polêmica em Hollywood. Para a associação, o modelo proposto tem potencial de prejudicar o hábito de ir ao cinema e desvalorizar os produtos cinematográficos. E convoca estúdios a oferecer resistência à iniciativa. Confira o texto abaixo:
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A Art House Convergence, uma organização de cinema que representa 600 complexos e parceiros do negócio da exibição, opõe-se fortemente ao Screening Room, a start-up financiada pelo cofundador do Napster Sean Parker e Prem Akkaraju. O modelo proposto é incongruente com o setor de exibição ao desvalorizar a experiência de uma sala de cinema e ao permitir o crescimento da pirataria. Além disso, questionamos seriamente a viabilidade econômica do modelo de receita compartilhada proposto.
Não estamos discutindo o aspecto day-and-date do modelo, nem estamos defendendo a diminuição da disponibilidade de opções de entretenimento caseiro para os consumidores – a maioria dos cinemas independentes já convive com o VoD e o premium VoD, e, como exibidores, estamos bastante cientes de que há frequentadores que preferem ficar em casa para assistir a filmes em vez de sair para nossos cinemas.
Estamos focados no impacto desse modelo em particular no mercado de exibição como um todo. Acreditamos firmemente que, caso os estúdios, distribuidores e principais redes adotem esse modelo, vamos assistir a uma disseminação agressiva de conteúdos pirateados e, consequentemente, a um declínio no lucro geral do negócio pela canibalização da renda dos cinemas. A experiência de uma sala de cinema é única e beneficia a maximização dos ganhos dos filmes. O lançamento nas salas de exibição contribui para a saúde das fontes de renda secundárias e, por isso, a arrecadação dos cinemas deve ser protegida do efeito potencialmente erosivo da pirataria.
A comunidade da exibição foi instada a se adequar ao padrão DCI de maneira bastante palpável – pelo financiamento via VPF de integradoras (cujos contratos ainda não expiraram) ou optando por outros modelos que necessitaram de tempo e comprometimento substanciais. Os exibidores que não conseguiram fazer a transição foram punidos pela perda de produtos. A conversão digital teve um custo substancial por cinema, de até US$ 100 mil por tela, tudo em nome da erradicação da pirataria e da queda do preço da cópia, armazenamento e entrega a cargo dos distribuidores. Como a Screening Room vai prevenir a pirataria? Se os estúdios estão tão preocupados com a possibilidade de projecionistas e frequentadores gravarem um filme nos cinemas a ponto de fornecer seguranças com óculos de visão noturna para as pré-estreias e fins de semana de abertura, como argumentar que o espectador em casa não vai instalar uma câmera HD de US$ 40 e capturar uma versão quase cristalina do filme para fazer upload imediato em sites de torrent?
A proposta ignora a adequação ao DCI ao disponibilizar estreias para todos que tenham o conversor por uma taxa incrivelmente baixa – como a Screening Room vai impedir a venda desses equipamentos para um condomínio de apartamentos, um dono de bar ou qualquer outro indivíduo ou empresa interessados em criar seu próprio espaço de exibição provisório? Temos que considerar como as estruturas existentes de exibição serão afetadas ou prejudicadas, considerando taxas, VPFs e percentuais de bilheteria.
Um modelo como esse também terá impacto econômico local ao encorajar os espectadores tradicionais a ficarem em casa, reduzindo a renda dos cinemas e tornando conteúdo pirateado de alta qualidade rapidamente disponível. Essa redução de arrecadação de bilheteria e a pirataria vão resultar na perda de empregos, tanto de novatos quanto de veteranos, de funcionários de bomboniere e bilheteiros a projecionistas e programadores, e vai ter um impacto negativo nos negócios de restaurantes e outros estabelecimentos vizinhos. Quantos cineastas atuais começaram suas carreiras em seu cinema local?
Existem muitas perguntas sem resposta a respeito do funcionamento concreto desse negócio. O modelo proposto, como lemos em várias reportagens, sugere que exibidores vão receber US$ 20 por filme adquirido. À primeira vista, um exibidor pode pensar que isso representa uma pequena mas potencialmente constante fonte de renda adicional. Porém, como isso vai ser dividido entre os vários cinemas exibindo aquele filme; os exibidores que lançarem o título na primeira semana receberão mais que os que estrearem depois (com base na decisão dos distribuidores); quem vai auditar a renda para assegurar que os exibidores estão sendo remunerados corretamente; essa renda virá da Screening Room ou do distribuidor... essas são algumas questões ainda a ser explicadas.
Da mesma forma, a Screening Room promete dar a cada assinante dois ingressos de cada filme que adquirirem. Ainda deve ser revelado como o exibidor vai reaver o valor desses ingressos da Screening Room para que possa pagar a porcentagem de renda exigida pelo distribuidor do filme. Ainda cabe explicação sobre quem vai gerir o sistema de ingressos, com variáveis como localização, método de compra. Todos os exibidores serão contemplados pelo programa de bilhetes de graça da Screening Room ou alguns receberão tratamento preferencial em relação aos outros?
Convocamos estúdios, cineastas e exibidores a realmente pesar o impacto que esse modelo teria sobre a indústria de exibição. Nós, assim como a comunidade independente e do filme de arte, temos preocupações graves a respeito da segurança do sistema de conversor caseiro, assim como sobre a transparência e efetividade do modelo de receita compartilhada. Nosso setor de exibição sempre acolheu a inovação, as rupturas e as ideias de vanguarda, principalmente nas telas, por meio de filmes independentes; no entanto, não enxergamos a Screening Room como uma iniciativa inovadora ou pioneira a nosso favor, ao contrário, vemos a iniciativa como um convite à pirataria e uma desvalorização significativa da rentabilidade dos lançamentos cinematográficos.
Até agora, com as informações disponíveis para nós, encorajamos com veemência os estúdios a se negarem a fornecer conteúdo para esse serviço.
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