Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Dos 707 filmes lançados nos Estados Unidos em 2014, 571 (ou 80,7%) eram independentes, entre títulos locais e estrangeiros. O número, incluído no último relatório da Motion Picture Association of America (MPAA), serviu de norte para a mesa “O mercado independente nos EUA e as oportunidades no Brasil”, no Rio Market. Os participantes fizeram um breve panorama do que a produção fora dos estúdios representa hoje, depois de tantas transformações da indústria audiovisual.
Presidente da Rio Film Comission, o moderador Steve Solot deu largada à discussão com dados do relatório da MPAA, que apontam para a estagnação do mercado interno nos EUA e a ascensão do internacional, puxado pela China. Em seguida, fez a pergunta crucial: o que é considerado cinema independente atualmente?
“Teoricamente, é o filme produzido e financiado fora do esquema dos grandes estúdios, mas isso está cada vez mais difícil de determinar porque hoje temos grandes produções, com perfil de blockbusters, feitas fora das majors, mas que são compradas por elas”, respondeu Steven Wolfe, da produtora Sneak Preview, citando exemplos como Jogos Vorazes e Crepúsculo, que ajudaram a catapultar a minimajor Lionsgate. “Em alguns aspectos, eles são independentes, mas isso soa ridículo”, completou Matt Brodlie, da Relativity Media.
Em outro espectro, diz Wolfe, há os filmes de orçamento menor que se apropriam da linguagem e estética do cinema independente e têm potencial de comunicação com o grande público. Por isso, acabam nas mãos das divisões especializadas dos estúdios e fazem carreiras de respeito. Foi o caso de (500) dias com ela, que saiu aplaudido do Sundance Festival em 2009 e foi adquirido pela Fox Searchlight. Com custo de produção de US$ 7,5 milhões, arrecadou US$ 60 milhões nas bilheterias.
Língua estrangeira limita lançamentos
Para Alexandra Rossi, da produtora Breakfast Club, as definições variam dentro de diferentes mercados. No americano, a tendência é que a língua determine o tamanho de um lançamento. “Se temos um filme em idioma estrangeiro, ele cai automaticamente dentro de uma prateleira de nicho, não importa o seu potencial no mercado de origem”, disse. No caso da língua espanhola, a grande comunidade latina do país pode ampliar o alcance de uma produção.
As diferenças entre a estrutura da indústria americana e brasileira de cinema podem ser observadas principalmente no financiamento. Enquanto lá as fontes são privadas, principalmente de private equity, aqui os incentivos governamentais pesam mais. “Não existe no Brasil uma associação de produtores cinematográficos independentes como a que existe nos EUA”, disse Solot.
Outro elemento bastante disseminado por lá que não existe aqui é a agência de talentos, empresa que mantém sob contrato roteiristas, atores e diretores. Muitas vezes, delas partem projetos já bem desenhados, com equipe e financiadores. “Eles são muito poderosos nos EUA, controlam da concepção à distribuição. Se você é um produtor e quer aquele elenco, acaba cedendo parte dos direitos do filme para eles”, explicou Alexandra.
Em comum com os EUA, temos a dificuldade de inserir projetos de porte menor no funil da exibição. Para Brodlie, essa é uma barreira que tende a se diluir. “O maior problema dos independentes era a distribuição nos cinemas. Hoje, com as plataformas digitais, esse problema melhorou muito”, comemorou.
Festivais ainda são plataformas importantes
Para os filmes brasileiros com ambições internacionais, a língua portuguesa ainda é o maior complicador. Nesse caso – e para os estrangeiros de olho no mercado americano em geral -, o conselho dos participantes é fortalecer a carreira da obra em festivais de prestígio, que ainda têm relevância para os programadores. “O que a crítica tem a dizer dos filmes selecionados tem um peso. É algo que não exige investimento porque não é pago e dá uma exposição incrível”, opinou Alexandra.
Para ela, os festivais ainda têm a vantagem de colocar o produtor cara a cara com os agentes de venda: “O prestígio da empresa por trás do filme diz muito sobre o potencial do projeto”. Jason Ishikawa, da The Film Sales Company, resumiu a questão em um conceito: integridade artística. “Não façam filmes que imitem Hollywood. Não comprometam sua visão artística para fazer algo que imaginam que o público quer ver. As pessoas escolhem um filme de arte justamente para fugir da estética da qual o espectador já está saturado”, afirmou.
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