Christian Figueiredo: o filme

Christian Figueiredo: o filme

Gustavo Leitão, de São Paulo*
15 dez 16

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Divulgação/Aline Arruda

Bruno (esq) e Julio: diretor e produtor do filme

Depois de Kéfera conquistar 1,7 milhão de espectadores com É fada!, é a vez de outra aposta no promissor filão de youtubers no cinema. Baseado na vida do popular – e já veterano – influenciador digital Christian Figueiredo, Eu fico loko chega às telas nas férias de janeiro, de olho nos mais de 10 milhões de jovens seguidores de seus dois canais no YouTube. O filme teve sua primeira grande ação de lançamento nesta terça-feira, dia 13, em São Paulo, com um dia dedicado a sessão e coletiva de imprensa pela manhã e pré-estreia para fãs seguida de festa à noite.

A proposta do filme guarda poucas semelhanças com o longa de Kéfera, que levou a cara conhecida da youtuber para os cinemas em uma trama inspirada em um livro de Thalita Rebouças. Desta vez, o próprio Christian Figueiredo é o personagem de sua história, que já tinha sido contada no best-seller Eu fico loko – As desventuras de um adolescente nada convencional. Um dos títulos mais vendidos no ano passado, com mais de 170 mil exemplares, o livro é uma coleção de casos da infância e adolescência do autor, que passou de jovem tímido e desastrado com as garotas a estrela fulgurante da internet.

No longa, produzido pela Ananã (de S.O.S Mulheres ao mar e Chico Xavier) e distribuído por Downtown/Paris e Universal, dois atores vivem o youtuber, na infância (Cauã Gonçalves) e aos 15 anos (Filipe Bragança). Outros nomes do elenco incluem Alessandra Negrini e Marcello Airoldi, como os pais do protagonista, e Suely Franco, que faz a avó figuraça do adolescente. O próprio Christian aparece como uma espécie de consciência do personagem, pontuando momentos importantes da história.

Diários de adolescente na era digital

Para construir a trama, o youtuber passou uma semana em um brainstorm criativo numa casa na região serrana do Rio com os roteiristas Sylvio Gonçalves e Bruno Garotti, também diretor do filme. Juntos, eles costuraram as histórias soltas em um fio narrativo, que acompanha as desventuras do moleque BV (boca virgem) para conseguir desencalhar e encontrar sua turma. Em paralelo, o roteiro fala do surgimento de uma nova forma de comunicação jovem em videodiários digitais, assunto que não chegou a entrar no livro – depois do primeiro, Christian ainda lançou mais duas biografias. “O filme é uma mistura de Curtindo a vida adoidado com A rede social”, brinca o diretor.

Agora em seu primeiro longa solo, Bruno Garotti já tinha trabalhado como assistente de direção e roteirista em Confissões de adolescente, de 2013. O longa que atualizou a peça/seriado de Maria Mariana dos anos 1990 foi uma de suas referências. “Lembrei de Confissões imediatamente quando li o livro do Christian. As questões do amadurecimento são parecidas e os dois têm o mesmo tom confessional, basta trocar o diário pelo YouTube”, defende. Além dos escritos do youtuber, hoje com 22 anos, seus mais de 500 vídeos também serviram como inspiração. Uma compilação de cenas do canal encerra a projeção.

Produção totalmente em locações

Eu fico loko teve três meses de pré-produção e cinco semanas de filmagens em São Paulo, exclusivamente em locações. “Filmamos em quatro escolas diferentes para não atrapalhar as aulas e até numa igreja escandinava”, conta o produtor executivo Julio Uchoa, que também precisou deslocar estrutura e equipe do Rio, sede da Ananã: “Era preciso estar perto da identidade do Christian, falando o sotaque dele”. Nascido em Blumenau (SC), o youtuber mora na capital paulista desde a infância.

Uma das mais tarefas mais difíceis era encontrar o protagonista, que precisava ser suficientemente parecido com Christian e ter bagagem como ator. Foram nove testes e seis candidatos finalistas até a produção chegar a Filipe Bragança, ex-Chiquititas. “Gostei dele de cara, mas ele tinha pinta de galã, era fortinho, não tinha muito a ver com o que a gente procurava inicialmente”, recorda Bruno. O ator parou de malhar, emagreceu quatro quilos, deixou o cabelo crescer, fez preparação corporal para ficar corcunda e trabalho vocal para emular a voz estridente do youtuber.

Campanha digital é o foco

Com orçamento de R$ 5,4 milhões, o longa ganha as telas no dia 12 de janeiro, na mesma semana de Assassin’s creed (Fox) e logo na sequência da estreia da animação Moana – Um mar de aventuras (Disney). O circuito deve fechar entre as 450 e 650 salas. “Estamos imaginando um público alvo entre 10 e 21 anos”, diz Julio. O produtor trabalhou com as métricas do canal de Christian, que indicam uma proporção equivalente de seguidores homens e mulheres. Também foram feitos dois testes com audiência do filme, no Rio e em São Paulo – os resultados foram bons tanto com os fãs do youtuber como quem não o conhecia.

A campanha mirou numa presença forte no canal Eu fico loko, como era de se esperar. Desde setembro, Christian vem publicando vídeos de making of toda sexta-feira. Foram 12 até agora, sendo que o primeiro chegou a 1,5 milhão de visualizações. “Estamos investindo 40% do P&A (prints and advertisment, verba para cópias e publicidade) apenas com ele”, revela o produtor. A partir do dia 6, haverá pré-estreias em 14 estados, com a presença do youtuber e o elenco. As distribuidoras têm planos ainda de lançar o filme em Angola e Portugal.

Outro trunfo é a trilha sonora do produtor Alok, que tem sua própria base de fãs para atrair até a sala de cinema. Música-tema do longa, o clipe de Here me now conta com 12 milhões de visualizações. Ele também é um dos mais tocados no Spotify brasileiro. Marcos Zeeba, que gravou os vocais da canção, faz uma participação no filme como um amigo do protagonista.

Resta saber como o público vai receber essa nova leva de talentos do mundo digital. Depois dos filmes do Porta dos Fundos, Kéfera e Christian, em fevereiro ganha o circuito Internet – O filme, com uma constelação de nomes do YouTube.

“A força da internet hoje é muito evidente. Ela trouxe autonomia para pessoas com ideias na cabeça e espontaneidade. Em 2017, vocês verão essas pessoas, que não vieram da mídia tradicional, ocupando lugar nela”, resume Christian.

* O editor viajou a convite da distribuidora Paris Filmes

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