Brasília debate coprodução e regulação

Brasília debate coprodução e regulação

Thiago Stivaletti, de Brasília*
17 set 15

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Divulgação

Saguão do festival, que começou na última terça

O Festival de Brasília deu largada à sua programação de debates nesta quarta, dia 16, em clima acalorado. Uma das mesas do Fórum de Coprodução Internacional sobre os desafios das parcerias estrangeiras acabou se concentrando na discussão a respeito do papel da Agência Nacional do Cinema (Ancine) no mercado cinematográfico brasileiro.

O português Ricardo Castanheira, gerente geral da Motion Pictures Association (MPA) para a América Latina, representante das majors no Brasil, começou exibindo dados de um levantamento sobre o mercado audiovisual brasileiro elaborado pela consultoria Tendências. A apresentação resvalou em críticas aos limites de salas por complexo impostos pela agência para a exibição de um mesmo filme. “Não é dessa forma que vamos resolver uma questão que no fundo é de demanda”, disse ele, que lançou uma provocação: “A Ancine é a única agência do mundo que atua em regulação e fomento ao mesmo tempo. Isso é bom ou ruim?”.

Estudo revela participação do audiovisual no PIB 

Durante a apresentação, o executivo revelou que o setor audiovisual representa hoje 0,54% do PIB brasileiro, cifra nada desprezível, equivalente à participação do turismo. Em 2013, segundo o levantamento, esse mercado gerou 220 mil postos de trabalho no país - 110 mil diretos e outros 110 mil indiretos, com contratação de serviços como hotelaria e aluguel de equipamentos.

Para Castanheira, ainda há entraves para o maior desenvolvimento do audiovisual no Brasil. “Não há sinais efetivos de combate à pirataria. Também não há segurança jurídica para quem quer ser criador no Brasil. Sem falar no déficit de mão de obra qualificada e de roteiristas, e nas poucas escolas e universidades de cinema. A rede de exibição é pequena, com menos de 10% dos municípios brasileiros com salas”, afirmou.

Sócio da Gullane defende o papel da agência

Fabiano Gullane, produtor de filmes como Que horas ela volta? e Amazônia 3D, criticou a burocracia ainda forte nos processos da Ancine, mas defendeu o papel da agência. “Temos que lembrar que a Ancine ainda é um bebê, foi criada há apenas 15 anos. Sinto uma vontade legítima da agência de melhorar os processos e a relação com os produtores”, disse.

Fabiano aproveitou para contar a experiência de sua produtora nas mais de dez coproduções que já comandou pela Gullane. “O importante é que todas as partes envolvidas enxerguem o mesmo filme. No chinês Plastic city, isso não aconteceu. Em Amazônia, levou muito tempo, mas conseguimos nos articular bem [com os produtores franceses]."

* O editor assistente viajou a convite da organização do festival