Referência
no mercado de
cinema no Brasil
O diretor Mark Osborne está vivendo uma realidade muito diferente de sete anos atrás. Em 2008, ele dirigiu para a Dreamworks Kung Fu Panda, primeiro filme da franquia que está rendendo mais duas continuações. Lançado simultaneamente no mundo todo pela Paramount, o filme estreou em 465 salas do Brasil, fazendo 3,7 milhões de espectadores.
Depois, Mark saiu da Dreamworks para se lançar num projeto pessoal – uma versão animada de O pequeno príncipe, o célebre livro do francês Saint-Exupéry, desta vez contado do ponto de vista de uma garotinha que não existe no livro.
Bancado por produtores franceses e italianos, ele comandou uma equipe de mais de 300 pessoas num estúdio em Montreal e, depois de estrear o longa no último Festival de Cannes, agora sai pessoalmente pelo mundo para divulgar o filme – esta semana, passou pelo Rio e São Paulo para uma pré do filme no festival Anima Mundi. O orçamento foi de US$ 81 milhões – quase 40% menos que Kung Fu Panda (US$ 130 milhões).
Por enquanto, O pequeno príncipe está vendido para 40 territórios. Para chegar a esse número, os produtores articularam uma distribuição mista. A Paramount ficou responsável pelo lançamento nos dois principais mercados, França e EUA – o lançamento francês no próximo dia 29 servirá como medidor para calcular o número de salas e definir a data de estreia no mercado americano.
A Warner distribui para Alemanha e Japão, e a Weinstein Company para Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia, entre muitos outros. No Brasil, o lançamento será em 20 de agosto pela Paris Filmes – que, sem especificar número de cópias, planeja um lançamento de grande porte, mesmo já fora do período das férias escolares.
Leia a seguir a entrevista do diretor para o Filme B.
Como está sendo esse lançamento pulverizado de O pequeno príncipe no mundo?
Lançar o filme agora vai ser tão complexo quanto foi produzi-lo. Queremos fazer um lançamento grande nos EUA. Vamos lançar na França primeiro, e se ele for muito bem de público lá, isso pode alterar o tamanho do circuito em outros países.
A força do livro nos permitiu fazer pré-venda em muitos territórios. Seria bom ter um distribuidor só pro mundo todo, mas quando começamos o projeto, ele era algo meio estranho. Todo mundo conhece a popularidade do livro, mas há muitas coisas nesses filme que não apontam para o conceito de um blockbuster. Os distribuidores coçavam a cabeça antes de embarcar. Agora que o filme está pronto, podemos criar uma estratégia baseado no que criamos.
Foi a mesma coisa quando comecei a trabalhar com stop motion. Os investidores hesitavam, funcionava bem em alguns países e mal em outros... Hoje, todo mundo ama. Sinto que este é um filme que irá muito bem no boca a boca.
Para você, o 3D é um caminho sem volta para a animação? Você pensa que as novas gerações vão se acostumar ao 3D de tal forma que não voltaremos mais ao 2D?
Quando o 3D é bem empregado como uma ferramenta para contar a história, é fantástico. É difícil porque o público tende a ficar meio embasbacado com o efeito: “o filme é em 3D?! Ah, é mesmo!”. É importante desenhá-la como parte da experiência. Mas não sei, o 3D ainda parece uma moda para mim. Ele sempre reaparece quando o mercado quer aumentar a venda de ingressos. É curioso: meu filho, por exemplo, nunca quer ir ao cinema para ver 3D – ele se incomoda com os óculos e com a imagem mais escura. É só pensar: quando surgiu a fotografia, as pessoas deixaram de pintar? Não. Então acho que sempre haverá a opção do 2D.
Por outro lado, lembro que assisti As aventuras de Pi em 2D. Assim que o filme terminou, pensei: “eu devia ter visto em 3D”. Ou seja, tudo depende do filme.
Houve uma estratégia de criação específica do 3D para O pequeno príncipe?
Sim. O 3D do filme foi desenhado para ser “achatado” quando mostra o Príncipe adulto, e bem profundo nos momentos de imaginação. Tentamos melhorar a experiência emocional do espectador. Mas confesso que não tive muito envolvimento na criação do 3D para o filme. Tivemos um grande consultor, John Brooks, que trabalhou com James Cameron (de Avatar) por 30 anos. Espero me envolver mais no próximo projeto.
Você sentiu menos pressão e mais liberdade de criação neste longa do que no anterior? A rotina de trabalho era diferente?
A pressão em Kung Fu Panda não era apenas a de atingir um público imenso ou lidar com um orçamento grande; era fazer uma homenagem ao kung fu e a toda a cultura chinesa. O número de pessoas envolvidas no processo de um filme é proporcional ao tamanho do orçamento. Todo filme envolve um risco. Nas animações, o risco é ainda maior, porque envolve mais trabalho e mais tempo de preparação. Na Dreamworks, a escala assustava.
Há cinco anos, quando começamos a desenvolver O pequeno príncipe, não havia protagonistas femininas numa animação. Agora temos Frozen, Divertida mente e tantos outros, tornou-se uma tendência. É esse tipo de risco que envolve mais pressão dentro de um grande estúdio.
Imagino que a Dreamworks tenha convidado você para dirigir Kung Fu Panda 2. Foi difícil recusar?
Quando terminei Kung Fu Panda, eu já tinha a vontade de fazer outra coisa. E enquanto eu terminava o primeiro filme, a Dreamworks já trabalhava em Kung Fu Panda 2. Eu não estava mais interessado, queria fazer algo diferente, novo e único.
Quais foram os últimos longas de animação que você viu e aprovou?
Gostei muito de Festa no céu [The book of life], do mexicano Jorge Gutiérrez [lançado no Brasil pela Fox]. Vi Divertida mente com a minha mulher e achei lindo, uma graça. E, mesmo não sendo uma animação, preciso falar de Mad Max – Estrada da fúria... É incrível! Gostei tanto que voltei no dia seguinte com a minha filha, que é superfeminista e adora personagens de mulheres fortes.
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