Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Seja no streaming ou na tela grande, o cinema mundial mostrou sua face diversa em 2022, com a volta dos festivais internacionais em formato totalmente presencial e o relançamento de grandes blockbusters.
Para celebrar a diversidade de obras vistas nos últimos 12 meses, a Filme B pediu a cineastas brasileiros que escolhessem seus filmes preferidos deste ano. As seleções vão desde o sucesso de bilheteria Não! Não olhe! (Universal) até longas de prestígio, como Triângulo da tristeza (Diamond/Galeria).
Daniel Filho e Kleber Mendonça
O carioca Daniel Filho, diretor de O silêncio da chuva e Boca de Ouro, definiu Triângulo da tristeza, grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes, como "um filme que fica no pensamento". O longa chega ao Brasil em 2 de março.
"Trata de um tema já usado, mas que volta num momento oportuno. É um Buñuel redivivo", disse Daniel.
Kleber Mendonça Filho, de O som ao redor, Aquarius e Bacurau, também pinçou de Cannes o seu favorito: o romeno R.M.N., de Cristian Mungiu.
Daniel Rezende e Fernando Meirelles
Exibido na mostra francesa, Close, de Lukas Dhont, foi uma obra impactante para Daniel Rezende, diretor de Turma da Mônica e montador indicado ao Oscar por Cidade de Deus.
"Fazia muito tempo que não me emocionava tanto com um filme", diz Daniel Rezende. "A verdade nos olhares, nos silêncios, na simplicidade das cenas e nos dramas dos personagens me fizeram chorar como poucas vezes. Temas profundos e humanos são tratados com delicadeza e maestria."
Close estreia no Brasil no mesmo dia de Triângulo da tristeza.
Já disponível na Netflix, Bardo foi o escolhido por Fernando Meirelles. A produção vem sendo definida por críticos como uma das obras mais pessoais do mexicano Alejandro G. Iñárritu.
"É para fazer filmes como esse que o cinema foi inventado", elogia Meirelles. "Assistir a Bardo foi como assistir a um sonho, o que de fato é a ideia do filme. O roteiro é brilhante, as imagens contam a história talvez mais que os diálogos. A música, a direção de arte... tudo é encantamento."
Meirelles chega a dizer que, após ver o longa, teve a sensação "de que não precisaria mais fazer filmes": "disse isso ao próprio Alejandro, que estava na sessão na qual vi o filme."
Sérgio Machado e José Joffily
Diretor de Cidade Baixa e Tudo que aprendemos juntos, Sérgio Machado diz ter visto muitos filmes bons em 2022, mas destacou Argentina, 1985, de Santiago Mitre, disponível na Amazon. O drama histórico está indicado ao Globo de Ouro e é um dos favoritos ao Oscar de melhor filme internacional.
"Escolho esse filme por toda a relação com o que está acontecendo com o Brasil e com a necessidade de passar o país a limpo e não deixar que criminosos e genocidas permaneçam impunes", diz Machado. "Vi com o meu filho adolescente, e ele se emocionou muito."
Argentina, 1985 também foi o grande favorito de José Joffily, de Olhos azuis e Quem matou Pixote?.
"É uma história exemplar para nós, com um elenco impecável e uma direção firme que conduz todos pelo mesmo caminho. Mesmo sendo uma história com desfecho conhecido, ainda é entretenimento que nos mantém interessados do início ao fim", diz Joffily.
Júlia Rezende
Expoente de comédias românticas brasileiras, Júlia Rezende, de Meu passado me condena e Depois a louca sou eu, elegeu o romance Com amor e fúria, elogiado longa de Claire Denis lançado no Brasil no mês passado.
"Toda a força e a sensibilidade de uma das maiores cineastas em atividade em um filme denso, angustiante e profundo", define Júlia Rezende. "Personagens complexos, ambíguos, interpretados por atores gigantes."
Lúcia Murat e Júlia Murat
O ano foi especial para Júlia Murat, que ganhou o Leopardo de Ouro, no Festival de Locarno, na Suíça, por Regra 34. Para ela, o melhor de 2022 foi Três tigres tristes, de Gustavo Vinagre, visto no Festival de Havana.
"Esse filme me fez lembrar o quão potente pode ser a busca por uma liberdade narrativa, onde a leveza e a brincadeira fazem parte do fazer cinematográfico", reflete Júlia. "Não é sobre limpeza estética ou precisão narrativa, mas justamente o contrário: a força de fluir com os personagens, permitindo que os erros façam parte e sejam assimilados. Uma linda construção de um universo queer."
Lúcia Murat, diretora de Quase dois irmãos e Praça Paris, brinca e admite fazer uma "propaganda" ao escolher o longa de sua filha, Regra 34, "pela coragem e talento com que trabalha discussões políticas e o desejo sexual."
Gabriel Martins e Jorge Furtado
Responsável pelo filme que representou o Brasil no Oscar, Marte Um (Embaúba Filmes), Gabriel Martins escolheu Não! Não olhe!, a mais recente empreitada de Jordan Peele no terror.
"Nope é um filme sobre o olhar e sobre traumas, e, a partir disso, sobre o cinema como ferramenta para desvelar de maneira brilhante as complexidades do existir", diz Martins.
Já Jorge Furtado, de O homem que copiava e Meu tio matou um cara, ficou com um documentário nacional: Quebrando mitos, que explora as consequências negativas das políticas do governo Bolsonaro. A direção é de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira.
"A mistura de vida pública e privada que este filme consegue explorar é muito rara, vigorosa e verdadeira. Me faz lembrar os melhores documentários de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles. O filme e seu personagem tentam manter a lucidez em tempos alucinados. E conseguem. Um retrato preciso, assustador e necessário do fascismo bolsonarista", diz Furtado.
© Filme B - Direitos reservados