Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Os números de 2021 ilustram como, a despeito do enfraquecimento da pandemia e da confiança do público na segurança dos cinemas, na hora de sair de casa os brasileiros priorizaram a experiência oferecida por blockbusters americanos em detrimento dos filmes nacionais e de arte. Dados consolidados do Filme B Box Office Brasil também dão uma dimensão da importância do último trimestre, grande responsável por fazer o ano crescer 32,2% em público e 42,2% em renda, graças ao avanço da vacinação — e da estreia do fenômeno Homem-Aranha - Sem volta para casa (Sony).
Ao todo, foram 53,1 milhões de ingressos vendidos em 365 dias, que renderam R$ 916,4 milhões. Obviamente, ainda são números muito inferiores a tempos pré-pandêmicos — 2019 fez 121% e 205% a mais, respectivamente. Mas provam que as bilheterias podem, sim, voltar aos padrões do "antigo normal". Basta reparar, nas tabelas abaixo, a linha verde (referente a 2021), que em dezembro, impulsionada por Homem-Aranha, ultrapassou a azul (2019) de maneira expressiva.
Sem volta para casa, o responsável pelo disparo na reta final de 2021, explodiu logo nos primeiros dias, tornando-se a segunda maior abertura da história do Brasil — e, rapidamente, a maior bilheteria do ano. Os outros nove títulos do top 10 chegaram às salas a partir de junho, com Invocação do mal 3 (Warner), mostrando que, mesmo de forma mais esparsa, o segundo semestre como um todo foi essencial para a recuperação do mercado. Foi neste período que as salas abriram, e as taxas de ocupação foram gradualmente ampliadas.
Com adiamentos e streaming, nacionais têm 1,4% do market share
No meio de tantos filmes fortes vindos de fora, as obras nacionais corresponderam a apenas 1,4% da bilheteria total de 2021, despencando 92% em relação a 2020. A enorme diferença no market share se explica, de um lado, pelo sucesso de Minha mãe é uma peça 3 (Dt/Paris) até o início da pandemia, o que deturpa a comparação. De outro, por adiamentos e lançamentos diretamente no streaming de comédias comerciais, além da resistência do público mais velho em voltar aos cinemas — este é o grosso do grupo demográfico que consome produtos de arte e nacionais. Quase 130 nacionais foram lançados, muitos dos quais, por terem recebido verbas de mecanismos de fomento, tinham prazo para serem exibidos na tela grande.
Os bons desempenhos de Marighella e, mais recentemente, Turma da Mônica - Lições, no entanto, colocaram de volta o cinema nacional em destaque na programação.
Parque exibidor encolhe 9%
No balanço de 2021, outro fator que não pode ser desconsiderado é o tamanho do parque exibidor, que, após anos em expansão, fechou o ano com mais de 300 salas a menos (-9%). A maioria pertence a pequenos exibidores que não resistiram à crise, mas também inclui telas de grandes complexos que até hoje permanecem desligadas.
De forma geral, 2021 foi uma espécie de "2020 invertido" — anos cujos melhores trimestres foram o último e o primeiro, respectivamente. A expectativa é que a tendência de crescimento se mantenha a partir de agora, apesar do temor da variante ômicron, que já começa a afetar o setor americano. A disponibilidade de vacinas, no entanto, sinaliza que o pior já passou.
Nos próximos dias, a Filme B trará ainda balanços sobre o market share de distribuidoras e exibidoras em 2021.
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