Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Há muitos anos que as cinematografias de todo o mundo vêm reclamando da falta de espaço nos cinemas de seus próprios países, pois o produto americano vinha preenchendo a programação dos cinemas, a chamada hegemonia de Hollywood. Eis que o streaming e a pandemia mudam este cenário. Completamente. Os cinemas fecharam, o streaming disparou, e os principais distribuidores norte-americanos viram seus filmes ficar sem mercado. Quase todos os distribuidores majors ou independentes decidiram investir em suas próprias plataformas, caminho aberto pela Netflix. No Brasil, onde existe uma das redes de TV mais fortes do mundo, proprietária do Globoplay, as organizações Globo resolveram juntar seus serviços e canais por assinatura numa única plataforma OTT.
Em poucos meses estabeleceu-se uma crise de produção e de ofertas de produtos para a exibição theatrical. O que poderia ser uma grande oportunidade para as cinematografias locais acabou virando um grande vazio. Assim, longe de preencher os espaços deixados pelos estúdios, a produção local ainda convive com a necessidade de dirigir seus produtos exatamente para este novo mercado do streaming, que é um dos responsáveis pela situação de quase calamidade do mercado exibidor.
Os filmes locais foram os que mais sofreram, pois são dependentes de um mecanismo de sobrevivência ligado à burocracia governamental em quase todos os países. Por isso demoram a recuperar a escala de produção e não conseguem mudar os novos hábitos de consumo do mercado entregue ao streaming.
A maioria dos produtores dos chamados filmes locais foram obrigados a se associar com as plataformas digitais de VoD, vendendo seus produtos já prontos, ou buscando coproduções para seus novos projetos. Até a França viveu esta realidade, e só agora vem recuperando seu mercado local. Vida que segue.
Além desta situação mercadológica, a produção de cinema no Brasil, liderada pela Ancine/FSA se encaixa bem neste modelo de gestão burocrática. Um governo hostil à cultura ajudou a paralisar a agência e sua consequente atuação. Segundo fontes, alguns títulos nacionais de distribuidores que num passado recente conseguiram emplacar vários sucessos, prometem reverter este cenário.
Em alguns países asiáticos, esta falta do produto local não vem acontecendo. Recente matéria do Filme B apresentou o caso da Indonésia e o grande sucesso de seus filmes locais, já que por lá a negociação com o streaming não compensa. Também falamos da ocupação dos cinemas chineses e o sucesso dos filmes locais no país.
O caso mais excepcional continua sendo o da Coreia do Sul. Há muitos anos a Filme B, em seu Database Mundo, já apontava que este país asiático possuía internamente, desde o início deste século, um forte market share para filmes locais. Hoje, as produções coreanas ocupam cerca de 50% do mercado local, resultado de uma administração privada por parte de exibidores e distribuidores nacionais, conseguindo exportar também para países vizinhos. Nos últimos dois anos, o filme coreano vem ganhando o mundo. Não se trata apenas de um único sucesso local, nem de um filme específico, como parece ter sido a explosão de Parasita no Oscar, ganhador de cinco estatuetas. Este filme foi apenas a ponta do iceberg de uma cinematografia que agora está novamente representada no Oscar por Decisão de Partir, em exibição no Brasil, distribuído pela Diamond/Galeria.
Seja nos cinemas, seja nos festivais, o cinema coreano vem conquistando tanto o público jovem como o dos festivais, além do streaming. A Netflix acaba de lançar aqui no Brasil um pacote de 32 filmes, ou seja, a Coreia está pronta, sim, para ocupar parte do espaço deixado pela ausência de filmes americanos, que só prometem retornar em grande escala em 2025.
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