Diretores brasileiros escolhem os melhores filmes de 2022

Diretores brasileiros escolhem os melhores filmes de 2022

Fabiano Ristow
30 dez 22

Seja no streaming ou na tela grande, o cinema mundial mostrou sua face diversa em 2022, com a volta dos festivais internacionais em formato totalmente presencial e o relançamento de grandes blockbusters.

Para celebrar a diversidade de obras vistas nos últimos 12 meses, a Filme B pediu a cineastas brasileiros que escolhessem seus filmes preferidos deste ano. As seleções vão desde o sucesso de bilheteria Não! Não olhe! (Universal) até longas de prestígio, como Triângulo da tristeza (Diamond/Galeria).

Daniel Filho e Kleber Mendonça

O carioca Daniel Filho, diretor de O silêncio da chuva e Boca de Ouro, definiu Triângulo da tristeza, grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes, como "um filme que fica no pensamento". O longa chega ao Brasil em 2 de março.

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'Triângulo da tristeza'

"Trata de um tema já usado, mas que volta num momento oportuno. É um Buñuel redivivo", disse Daniel.

Kleber Mendonça Filho, de O som ao redor, Aquarius e Bacurau, também pinçou de Cannes o seu favorito: o romeno R.M.N., de Cristian Mungiu.

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'R.M.N.'

Daniel Rezende e Fernando Meirelles

Exibido na mostra francesa, Close, de Lukas Dhont, foi uma obra impactante para Daniel Rezende, diretor de Turma da Mônica e montador indicado ao Oscar por Cidade de Deus.

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'Close'

"Fazia muito tempo que não me emocionava tanto com um filme", diz Daniel Rezende. "A verdade nos olhares, nos silêncios, na simplicidade das cenas e nos dramas dos personagens me fizeram chorar como poucas vezes. Temas profundos e humanos são tratados com delicadeza e maestria."

Close estreia no Brasil no mesmo dia de Triângulo da tristeza.

Já disponível na Netflix, Bardo foi o escolhido por Fernando Meirelles. A produção vem sendo definida por críticos como uma das obras mais pessoais do mexicano Alejandro G. Iñárritu.

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'Bardo'

"É para fazer filmes como esse que o cinema foi inventado", elogia Meirelles. "Assistir a Bardo foi como assistir a um sonho, o que de fato é a ideia do filme. O roteiro é brilhante, as imagens contam a história talvez mais que os diálogos. A música, a direção de arte... tudo é encantamento."

Meirelles chega a dizer que, após ver o longa, teve a sensação "de que não precisaria mais fazer filmes": "disse isso ao próprio Alejandro, que estava na sessão na qual vi o filme."

Sérgio Machado e José Joffily

Diretor de Cidade Baixa e Tudo que aprendemos juntos, Sérgio Machado diz ter visto muitos filmes bons em 2022, mas destacou Argentina, 1985, de Santiago Mitre, disponível na Amazon. O drama histórico está indicado ao Globo de Ouro e é um dos favoritos ao Oscar de melhor filme internacional.

"Escolho esse filme por toda a relação com o que está acontecendo com o Brasil e com a necessidade de passar o país a limpo e não deixar que criminosos e genocidas permaneçam impunes", diz Machado. "Vi com o meu filho adolescente, e ele se emocionou muito."

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'Argentina, 1985'

Argentina, 1985 também foi o grande favorito de José Joffily, de Olhos azuis e Quem matou Pixote?.

"É uma história exemplar para nós, com um elenco impecável e uma direção firme que conduz todos pelo mesmo caminho. Mesmo sendo uma história com desfecho conhecido, ainda é entretenimento que nos mantém interessados do início ao fim", diz Joffily.

Júlia Rezende

Expoente de comédias românticas brasileiras, Júlia Rezende, de Meu passado me condena e Depois a louca sou eu, elegeu o romance Com amor e fúria, elogiado longa de Claire Denis lançado no Brasil no mês passado.

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'Com amor e fúria'

"Toda a força e a sensibilidade de uma das maiores cineastas em atividade em um filme denso, angustiante e profundo", define Júlia Rezende. "Personagens complexos, ambíguos, interpretados por atores gigantes."

Lúcia Murat e Júlia Murat

O ano foi especial para Júlia Murat, que ganhou o Leopardo de Ouro, no Festival de Locarno, na Suíça, por Regra 34. Para ela, o melhor de 2022 foi Três tigres tristes, de Gustavo Vinagre, visto no Festival de Havana.

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'Três tigres tristes'

"Esse filme me fez lembrar o quão potente pode ser a busca por uma liberdade narrativa, onde a leveza e a brincadeira fazem parte do fazer cinematográfico", reflete Júlia. "Não é sobre limpeza estética ou precisão narrativa, mas justamente o contrário: a força de fluir com os personagens, permitindo que os erros façam parte e sejam assimilados. Uma linda construção de um universo queer."

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'Regra 34'

Lúcia Murat, diretora de Quase dois irmãos e Praça Paris, brinca e admite fazer uma "propaganda" ao escolher o longa de sua filha, Regra 34, "pela coragem e talento com que trabalha discussões políticas e o desejo sexual."

Gabriel Martins e Jorge Furtado

Responsável pelo filme que representou o Brasil no Oscar, Marte Um (Embaúba Filmes), Gabriel Martins escolheu Não! Não olhe!, a mais recente empreitada de Jordan Peele no terror.

"Nope é um filme sobre o olhar e sobre traumas, e, a partir disso, sobre o cinema como ferramenta para desvelar de maneira brilhante as complexidades do existir", diz Martins.

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'Não olhe'

Já Jorge Furtado, de O homem que copiava e Meu tio matou um cara, ficou com um documentário nacional: Quebrando mitos, que explora as consequências negativas das políticas do governo Bolsonaro. A direção é de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira.

"A mistura de vida pública e privada que este filme consegue explorar é muito rara, vigorosa e verdadeira. Me faz lembrar os melhores documentários de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles. O filme e seu personagem tentam manter a lucidez em tempos alucinados. E conseguem. Um retrato preciso, assustador e necessário do fascismo bolsonarista", diz Furtado.