Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Na 72ª edição do Festival de Berlim, aberta ontem na capital alemã, seis filmes brasileiros serão exibidos.
Além de três curtas-metragens, três longas estão divididos entre a mostra Panorama (Fogaréu, estreia de Flávia Neves na direção) e a Fórum (Mato seco em chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, e Três tigres tristes, de Gustavo Vinagre).
Para quem tem como referência a participação do país em 2019, o número de selecionados pode até parecer baixo. Naquele ano, foram, afinal de contas, 19 os representantes do país no festival. Mas está longe de significar que o Brasil está produzindo pouco.
Número de inscritos diminui, mas ainda é alto
Eduardo Valente, delegado do Festival de Berlim no Brasil, reforça, inclusive, que a quantidade de 75 filmes nacionais inscritos na edição atual é menor que a média de 110 antes da pandemia, mas ainda é alta. E que, em 2019, a participação brasileira era minoritária em seis curtas-metragens e quatro produções. "Foi um ano um pouco fora da curva”, diz ele.
O fato é que o "apagão" de filmes disponíveis ao mercado, prenunciado com a paralisação do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) e com a pandemia, não se tornou uma realidade.
Filmes estão à espera de conclusão
Fogaréu e Mato seco em chamas, por exemplo, foram rodados antes da crise da Covid-19 e tiveram os lançamentos atrasados por causa das restrições que fecharam as salas de cinema e limitaram os festivais internacionais. De forma semelhante, centenas de outros projetos foram interrompidos na pós-produção, à espera apenas da liberação de recursos para serem concluídos — o que está próximo de acontecer. O primeiro edital lançado na nova leva do FSA foi voltado, justamente, à complementação de recursos.
Em 2021, um censo feito pela Associação Paulista de Cineastas (Apaci) mostrou que, entre os 65 filmes em produção em São Paulo, 28 aguardavam recursos para finalização ou lançamento. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), existiam, no início do segundo semestre de 2021, 1,8 mil projetos “em execução”, ou seja, que tiveram parte do orçamento liberado, mas não foram lançados.
Apoio à participação brasileira em festivais é desmantelada
No caso dos filmes voltados ao circuito de festivais, o que ainda pode impactar de forma negativa o cinema brasileiro é o recuo na política de internacionalização da Ancine.
Tanto o longa de Flávia Neves, produzido por Vânia Catani, da Bananeira, quanto o de Adirley e Joana, foram coproduções internacionais — com a França e com Portugal, respectivamente. Ambos foram viabilizados a partir do Prodecine 05, linha do FSA voltada a projetos “com propostas de linguagem inovadora e relevância artística”.
Essa linha foi pensada dentro do processo de internacionalização, que incluía os apoios — hoje suspensos — à presença brasileira nos eventos de mercado e os acordos bilaterais, também inviabilizados nos últimos três anos.
Edital de coprodução
Por coincidência, justamente hoje, quando começa efetivamente o Festival de Berlim, a pauta da Diretoria Colegiada da Ancine inclui a aprovação de um edital de coprodução — antecipado pela Filme B. É muito menos do que já houve, mas não deixa de ser uma sinalização.
O que vai se evidenciando neste retorno dos festivais à forma presencial é que, apesar do desmantelamento das políticas de incentivo à promoção de filmes em eventos internacionais, os atrasos na produção gerados pela crise no FSA e pela pandemia acabaram não levando ao temido vácuo de produção.
© Filme B - Direitos reservados