Referência
no mercado de
cinema no Brasil
Produzido pela carioca New Group & Raconto, Polícia Federal – A lei é para todos ainda não tem data de lançamento definida pela Downtown/Paris, mas seu tema – os bastidores da Operação Lava Jato, que tem desmontado alguns dos maiores esquemas de corrupção no Brasil – por si só já o coloca na lista de um dos filmes mais aguardados do ano. Depois de algumas polêmicas, imprevistos e ameaças verbais, o thriller policial dirigido por Marcelo Antunez (codiretor de Até que a sorte nos separe 3) finalmente está saindo do papel – a previsão para o término das filmagens é para o dia 1° de março.
Em um hotel que serviu de locação no centro do Rio de Janeiro, o produtor Tomislav Blazic conversou com o Filme B sobre este que deve ser o projeto mais caro do cinema nacional desde a Retomada, com um orçamento de aproximadamente R$ 15 milhões, totalmente montado com investimentos privados. Segundo ele, que tem experiência com comédias como Vestido pra casar, a missão desta vez é fazer o público refletir sobre a situação do país, sem levantar a bandeira de nenhum partido.
Com filmagens em Brasília, Rio, São Paulo e Curitiba, o filme tem no elenco Marcelo Serrado, que faz um juiz inspirado em Sérgio Moro, além de Antonio Calloni, Flávia Alessandra e Rainer Cadete. Ary Fontoura dará vida ao ex-presidente Lula.
Blazic falou da interrupção das filmagens, no fim do ano passado, que deixou a equipe inteira de prontidão, das várias mudanças de elenco e fez mistério sobre os investidores do projeto, mantidos em anonimato por contrato. A operação ainda deve gerar dois longas-metragens que completam a trilogia Lava-Jato; uma série de livros assinadas pela dupla Carlos Graiebi, ex-editor da Veja, e Ana Maria Santos; e uma série para TV.
Como surgiu a ideia do projeto de Polícia Federal – A lei é para todos?
Quando comecei, eu estava no viés de fazer um filme de tráfico de drogas e armas. Nesse processo de preparação surgiu a Lava Jato. Na terceira operação, eu comecei a entender o tamanho que isso poderia ter e, por intermédio de alguns delegados amigos, essa coisa começou, pra mim, a tomar certo volume. Na minha cabeça era inconcebível o trajeto dessa corrupção, o tamanho que isso estava tendo, então achei que eu deveria partir para uma missão de levar a população a refletir sobre essa situação.
Não é muito delicado produzir um filme de teor político, baseado em fatos reais, durante o desenrolar dos fatos? Você não tem receio de que o projeto seja visto como panfletário?
O filme não tem viés político nenhum. Ele vem com a missão de fazer todo mundo repensar isso tudo que está acontecendo. Evidentemente que cada um vai tomar as suas decisões, vai avaliar o filme de um modo geral, mas hoje a coisa avançou tanto que ela já ultrapassou a barreira do bom senso, digamos assim.
O projeto de Polícia Federal é bastante grandioso, já que envolve uma trilogia para cinema, livros e uma série de TV. Como articular todas as engrenagens?
A logística de montagem, realmente, é complexa, porque esse filme não tem recursos incentivados, o projeto é todo com dinheiro bom, dinheiro de investidores que querem a sua taxa de retorno, é um blockbuster com os dois maiores distribuidores do Brasil, a Downtown Filmes e a Paris Filmes. Isso nos conforta na medida em que eu tenho uma estrutura de distribuidores e investidores fortes e isso está nos trazendo a possibilidade de poder fazer um filme de alta qualidade. Os livros serão lançados pela Editora Record antes do primeiro filme, mas ainda estamos fechando uma data para tentar casar o marketing. Já a série de TV, eu ainda não posso pautar, porque ela está em negociação, assim como o seu formato, que talvez seja de cinco ou seis capítulos.
A Ancine já havia liberado a captação de cerca de R$ 13 milhões para o filme, por que vocês abriram mão do incentivo público?
Nós entramos primeiramente com a Ancine, mas quando a coisa começou a tomar certo volume, quando nós começamos a entender esse processo e a, politicamente, sermos atacados, eu resolvi recuar. Percebi que o tema não comportava usar recursos públicos, porque certamente isso seria mais uma moeda para a gente ser atacado. É normal, o cinema inteiro usa, não estaríamos fazendo nada de errado. Mas achei melhor assim, sair fora desse processo e ir para a iniciativa privada, já que já tínhamos um canal com os investidores.
Essa divergência em relação ao financiamento do filme foi o que gerou uma interrupção de quase dois meses nas filmagens?
Foram várias coisas, uma filmagem quando para não é só por uma coisa. Nós começamos o processo de filmagem em Curitiba, que foi uma produção muito grande, em novembro. Dali, nós começamos a identificar uma série de problemas, pelo próprio tamanho do filme, tivemos que reavaliar as questões estruturais de roteiro e planejamento e, evidentemente, surgiram os investidores, então tivemos que realocar algumas coisas dentro do nosso fluxo. Então optei por parar, dar uma reorganizada, e aí nós ganhamos um bom tempo, que está ajudando muito nessas filmagens de agora. Estão correndo otimamente, sem percalços.
Mas imagino que esse atraso tenha gerado custos extras para a produção dos filmes, além dos R$ 12 milhões de orçamento que já estavam previstos...
O filme encareceu, claro. Os R$ 12 milhões, na verdade eram R$ 13,8 milhões, essa informação já estava errada. E hoje o filme está em quase R$ 15 milhões, R$ 14,7 milhões, por aí. Por enquanto, estamos conseguindo obedecer ao orçamento, mas tem umas coisas que a gente está querendo mudar e pode ser que deem uma encarecida, mas não muita coisa.
E quais as fontes de investimento privado do filme?
Temos uma série de apoiadores, como a rede hotéis Slaviero, que não investem diretamente, mas nos reforçam bastante na área estrutural. Os investidores fizeram um contrato de confidencialidade, então a gente não vai divulgar [suas identidades]. O que posso dizer é que todos tiveram que assinar as cláusulas de compliance [regras de conduta]. Há a responsabilidade de que ninguém esteja envolvido em absolutamente nada de corrupção, que isso é uma condição primordial do filme, já que estamos falando disso. Resolvemos deixar o processo sob sigilo, porque sempre existe uma preocupação de que alguém possa vir a falar alguma coisa, acusar de alguma coisa.
Você disse que chegou a receber ameaças políticas devido ao filme. Como isso se deu?
No começo, todo mundo ficava nos acusando o tempo inteiro, porque, nós, como pessoas físicas, temos as nossas posições políticas. Naquele instante, ficou a sensação de que tudo estava acontecendo só com o PT, então diziam que o filme era contra o PT, começou-se a dar conotação de viés político para o filme. Não, o filme é baseado em fatos reais. Hoje nós avançamos tanto, que nós já estamos vendo inúmeros partidos envolvidos, mas antes disso, não. Existia um radicalismo muito grande acontecendo e isso, naturalmente, foi caindo para o nosso lado. Tem aquele que aplaude quando você passa e a equipe chega e tem aquele que vaia. Mas quando forem ver o filme, vão ver que não é nada disso.
Desde que Polícia Federal – A lei é para todos foi anunciado, o elenco do filme passou por algumas reviravoltas, como a recusa de Júlio Andrade para o papel de Marcelo Odebrecht e de Wagner Moura para o de Sérgio Moro e a troca inesperada de Rodrigo Lombardi por Marcelo Serrado como protagonista. Você acredita que questões políticas podem ter influenciado essas decisões?
De modo geral, tem atores que não fizeram o papel por problema de datas. Outros, naturalmente, podem não ter gostado do projeto, mas não temos problemas com nenhum deles. O caso do Rodrigo Lombardi foi atípico. Ele foi um dos primeiros que assinou contrato com o filme, mas no meio do caminho precisou assumir correndo a série [Carcereiros] no lugar de Domingos Montagner. Ele também estava escalado para fazer a próxima novela [da Globo], o que gerou uma situação muito difícil. Tentamos de todas as formas conciliar o calendário, mas não houve jeito. Como o Marcelo Serrado já tinha sido uma opção – na época ele não topou, porque estava gravando novela –, retomamos as negociações.
Também foi divulgado pela imprensa que o juiz Sérgio Moro teria proibido a utilização do nome dele no filme, é verdade?
Eu sou um admirador particular do Moro. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho que respeitar uma série de situações. Primeiro, os delegados que estão no filme, todo mundo conhece, estão nas reportagens. Mas a operação tem muitos outros delegados, assim como procuradores. Juiz só tem um. A gente tem que entender é que o dr. Moro está em evidência o tempo inteiro, então também fica um desconforto para a gente. Quando a gente falar “o juiz”, todo mundo já vai entender. Partiu da nossa produção essa ideia.
Você é um produtor que veio da comédia (Os trapalhões; Vestido pra casar), assim como o diretor Marcelo Antunez (codiretor de Até que a sorte nos separe 3 e Qualquer gato vira-lata 2). Como está sendo essa passagem para o thriller policial, que é um gênero completamente diferente?
É a fome com a vontade de comer. (risos)
Mas e em relação à administração do orçamento? O custo de uma produção policial, em geral, é bastante superior ao que é gasto com as comédias nacionais...
Isso pra mim não é um problema, na verdade, é uma coisa que eu gosto de fazer. Essa é a minha especialidade, eu venho de outros projetos internacionais grandes – quando foi lançada aqui a série CSI: Miami, uma das unidades de produção era execução minha. Então, para mim não altera absolutamente nada. Para quem faz cinema, quando a gente quer contar uma boa história, quer contar uma boa história, independentemente se é comédia ou não.
O filme conta com um apoio inédito da Polícia Federal como consultora do roteiro. Como funciona esta parceria?
Nós fizemos um acordo de cooperação com a Polícia Federal que envolve esse filme e o de tráfico de drogas e armas. Durante um ano e meio, nós estivemos com todos os delegados envolvidos na operação, passamos por inúmeras entrevistas com todos eles, colhendo informações, buscando como tudo aconteceu, as situações dramáticas que envolveram a operação. Uma coisa é a notícia da imprensa. Mas como tudo surgiu, chegou à situação que temos hoje? E os problemas que eles tiveram durante a investigação? Tivemos dramas familiares, tivemos uma série de contingências acontecendo no meio do caminho que não foram contadas, que não estão nas reportagens da imprensa de modo geral.
Podemos esperar então um roteiro focado nos dramas humanos por trás da história, um pouco ao estilo Tropa de Elite?
Nosso foco é didático, é contar como essa história toda aconteceu, com esse lado humano sempre presente. Eu sou admirador do [diretor José] Padilha, porém a fonte é totalmente diferente, não tem nada tem a ver. Todo mundo acaba tendo como referência o Tropa. Pra nós é ótimo, estamos falando de um filme que foi uma mega bilheteria, mas os vieses são totalmente diferentes.
Polícia Federal – A lei é para todos já tem tamanho de lançamento definido?
Ainda não está definido, mas sabemos que é muito mais de mil salas. Hoje só os blockbusters americanos têm essa largada. Daqui a dois ou três meses, a gente vai começar a trabalhar isso mais forte, aí a gente vai ver o tamanho de fato.
O que podemos esperar para o segundo filme?
Ainda estamos em fase de pré-produção, evidentemente aguardando os acontecimentos, mas gostaríamos de respeitar o que foi feito com o primeiro, que é tentar filmar no fim do ano. O título deve continuar Polícia Federal – A lei é para todos ou talvez a gente troque o A Lei é para todos, que é o nome de uma das operações. E vamos todos torcer para que o filme acabe no terceiro, para que o Brasil não tenha mais surpresas desagradáveis.
© Filme B - Direitos reservados