Referência
no mercado de
cinema no Brasil
“Se você tem um bom pacote de talentos e ideias, existe dinheiro lá fora para buscar. Há uma sede de conteúdo hoje no mercado.” Foi assim que o produtor americano Steve Golin definiu o sucesso da Anonymous Content, criada há 16 anos e que hoje é uma das grandes produtoras de filmes e séries para Hollywood e a TV americana.
Golin, um dos convidados mais esperados do RioContentMarket, começou a carreira dirigindo publicidade e videoclipes. Em meados dos anos 1990, começou a produzir os primeiros longas da turma que se destacava nos clipes – David Fincher (Vidas em jogo), Spike Jonze (Quero ser John Malkovich) e Michel Gondry (Brilho eterno de uma mente sem lembranças).
Nos últimos tempos, a Anonymous se tornou palavra-chave no mundo do entretenimento. Os dois filmes mais consagrados do último Oscar, Spotlight – Segredos e revelados e O regresso, foram produzidos pela companhia. E duas das séries mais badaladas também: True Detective (HBO) e Mr. Robot (do canal USA). Outro ramo de atividade da Anonymous ajuda a montar o que Golin chama de um bom pacote: ela também faz o talent managent, fazendo a representação e prospecção no mercado para mais de cem talentos, entre atores e diretores – o que não significa que todas as produções da casa usem apenas seus representados.
Muito prestígio, pouco dinheiro
“Estamos tocando cerca de 50 projetos ao mesmo tempo. Você tem que se apaixonar, porque vai passar muito tempo desenvolvendo um filme ou uma série. O regresso levou 11 anos para ser feito, e Spotlight seis. Foi uma simples coincidência serem lançados no mesmo ano.” Segundo o produtor, uma das qualidades da Anonymous é saber procurar os talentos certos para os projetos certos. “Mesmo quando um diretor recusa uma ideia nossa, ele sabe exatamente por que mandamos essa ideia pra ele”.
Golin surpreendeu a plateia quando contou que recebe elogios por onde passa pelo Oscar de Spotlight, mas que não ganhou um centavo com o filme. “O filme custou US$ 20 milhões. Vai fazer cerca de US$ 80 milhões pelo mundo. Ainda assim, não vamos ganhar dinheiro. Se a gente segurasse os direitos até o final, talvez tivéssemos algum lucro, mas não é assim que funciona o mercado”.
O produtor conta que sentiu a mudança maior de poder da TV frente ao cinema em 2008. “Naquele ano, quando veio a crise econômica nos EUA, o financiamento e a pré-venda de um longa ficaram bem mais difíceis. David Fincher foi ao mercado e inovou, vendendo a série House of cards da mesma maneira que se vendiam os filmes. Houve uma grande competição no mercado, e a Netflix levou a melhor. Sentamos então com nossos managers e decidimos que era o momento de fazer mais TV.”
Sem intervalos
Hoje, além da TV tradicional, a Anonymous tenta (como todos) entender a entrada das gigantes do VOD na equação. “É um mundo totalmente novo. Há tantos compradores, tantas plataformas diferentes surgindo todo dia, tantos programas - mas poucos programas realmente bons disponíveis.” E admite que os criadores andam em lua de mel com a turma da Amazon, Netflix e companhia. “Séries como Fargo, no canal FX, ou Mr. Robot, que fazemos para o USA, são ótimas, mas envolvem o break comercial. A estrutura do programa para o VOD é diferente. E claro que os criadores querem a menor restrição possível em termos de intervalo comercial ou duração do episódio. Todos querem o projeto premium, sem comerciais.”
Mas, como tudo o que é novo envolve algo antigo, Golin se diz supreso ao ver que sua empresa está voltando a receber mais encomendas dos bons e velhos videoclipes. “Os clipes morreram e agora estão voltando. Talvez por conta do celular, os jovens querem ver mais esse formato. Há muitas oportunidades de vídeos curtos agora”, comenta. “Ninguém quer que seu filme seja visto no celular, mas é o que as pessoas estão fazendo cada vez mais. Pessoalmente, acho bem frustrante ver O regresso num celular”, brincou.
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