Referência
no mercado de
cinema no Brasil
As mudanças de hábito do espectador de cinema, cada vez mais colado ao sofá da sala, vêm inspirando discussões acaloradas entre distribuidores, exibidores e serviços de video on demand nos últimos anos. O que ninguém esperava era que a primeira proposta concreta de um novo modelo para conciliar interesses econômicos antagônicos viesse de um antigo rebelde da indústria do entretenimento, Sean Parker. O criador do Napster tem circulado por Hollywood com uma start-up na manga: a Screening Room, iniciativa voltada para filmes lançados day-and-date (simultaneamente) nos cinemas e nas TVs das casas.
Segundo a Variety, que revelou a história, Parker e seu sócio, Prem Akkaraju, querem convencer donos de cinema e grandes estúdios a abraçar um modelo de receita compartilhada para lançar seus filmes ao mesmo tempo no circuito tradicional e nos lares, por meio de um conversor da Screening Room à prova de pirataria. O preço é de serviço premium: US$ 150 pelo equipamento e US$ 50 pelo aluguel de cada filme, que seria válido apenas por 48 horas.
Para os exibidores, cada aluguel geraria uma receita de até US$ 20, enquanto as distribuidoras que ingressassem no modelo ficariam com uma fatia de 20% do preço do filme. À empresa de Parker, caberia uma parcela de 10% desse total. Como incentivo extra para os donos de cinema, cada título escolhido pelo assinante daria a ele o direito a retirar dois ingressos, o que abre a possibilidade de ele se descolar do sofá e gastar uns dólares a mais na bomboniere dos participantes.
Batalha com a indústria fonográfica
Ironicamente, o cartão de visitas da proposta tem um histórico ligado à pirataria. Parker, também sócio do Facebook, ganhou projeção quando seu serviço de troca de música digital gratuita, o Napster, inaugurou uma enorme batalha judicial com as gravadoras, no início dos anos 2000. Em sua nova empreitada, ele tem se valido da expertise de Jeff Blake, ex-executivo da Sony, que atua como consultor.
Durante sua “turnê” pelos escritórios de Hollywood, Parker vem repetindo que já está em negociações avançadas com a AMC, cadeia americana controlada por capital chinês e que caminha para ser o maior exibidor do mundo caso a compra da Carmike Cinemas seja aprovada pelos órgãos reguladores dos Estados Unidos. E haveria simpatia de alguns dos principais estúdios, como Universal, Fox e Sony. A Disney, por enquanto, seria a única major a manifestar desinteresse explícito.
Experiências frustradas com janelas
Os obstáculos da missão são muitos. O primeiro deles, mais evidente, é a histórica resistência das grandes cadeias americanas a mexer nas janelas de exibição, que ditam um intervalo de 90 dias entre a estreia nos cinemas e sua chegada a outras plataformas. Em 2011, a Universal testou o lançamento da comédia Roubo nas alturas em sistema day-and-date com um VoD premium, a US$ 59,99, mas desistiu quando exibidores anunciaram boicote ao filme.
No ano passado, foi a vez da Paramount experimentar uma estratégia parecida com Atividade paranormal: Dimensão fantasma e Como sobreviver a um ataque zumbi. Mais conservadora, a proposta previa apenas diminuir a janela clássica, garantindo a arrecadação compartilhada do on demand com donos de cinema. Porém, as adesões ficaram restritas à AMC, Cineplex e outras redes menores.
Preço alto pode dificultar adesão
Outro senão do serviço seria o alto preço, principalmente na comparação com o tíquete médio nos EUA, de US$ 8,42. Os defensores da ideia lembram que o cinema como programa familiar inclui outros gastos, como estacionamento, comida, babá, além dos múltiplos bilhetes. Mas a principal dúvida do mercado é se o modelo teria escala para sustentar seu interesse diante de outras opções mais baratas (ou até de graça, vide a pirataria). “Não existe mercado para isso”, vaticinou um executivo de estúdio ouvido pela Deadline.
Atualmente, há um serviço em operação com características semelhantes, o Prima Cinema. No entanto, ele não ameaça diretamente o Screening Room. Embora a ideia também seja levar para a casa dos usuários filmes ainda em cartaz nos cinemas, como Zoolander 2, trata-se de um modelo para poucos e abastados. Os assinantes precisam instalar um equipamento de home theater de luxo, com parâmetros bem determinados, e pagam de US$ 750 a US$ 1 mil por filme. Por enquanto, não consta que ninguém tenha chiado.
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