Jorge Furtado promete dois longas para 2016

Jorge Furtado promete dois longas para 2016

Thayz Guimarães
07 dez 15

Imagem destaque

Divulgação

Vladimir Bichta e Adriana Esteves em Real beleza

Vencedor do Emmy Internacional de melhor comédia, em 2015, por Doce de mãe, Jorge Furtado esteve na Comic Con Experience deste ano para falar sobre sua carreira e o papel do roteirista no universo das séries de televisão. Para ele, hoje, nós somos sufocados por milhões de histórias todos os dias, por isso, o principal desafio de um conteúdo audiovisual é garantir o entretenimento do espectador. “É como dizia Billy Wilder: ‘Agarre o espectador pela garganta e não o solte’”, afirma.

O Filme B conversou com o diretor e roteirista gaúcho sobre os rumos do cinema, a concorrência do streaming, e projetos futuros. Ele disse que o momento é bastante complexo, porque o “on the demand veio para ficar” e existe um novo formato de lançamento theatrical, que envolve megaproduções em 3D e em IMAX, o que torna impossível a concorrência de filmes menores. “O cinema que nós conhecemos acabou e a inteligência criativa foi toda para as séries, porque lá os roteiristas podem ousar mais”, declara.

Confira a entrevista completa abaixo:

Você acredita que existe vida no cinema para além das comédias nacionais e dos blockbusters americanos?

Sem dúvida. Eu acho que o cinema não vai morrer nunca. A questão é saber o tamanho das histórias, porque a indústria foi ficando cada vez mais cara e mais gigantesca, então os filmes são muito caros. Por isso é difícil achar alguém que queira ousar, experimentar uma coisa que pode dar errado. Como alguém vai querer investir num filme de US$ 10 milhões, US$ 20 milhões que pode dar errado? Vai ficando cada vez mais difícil. E sem o risco a arte não sobrevive. Para você ousar, em qualquer arte, você tem que contar com o risco, mas o cinema não pode dar muito errado, porque é muito dinheiro envolvido. O que eu acho que aconteceu é que a grande indústria foi ficando mais careta e as experimentações estão indo para as TVs, para os cabos, para as pontas. Mas que [o cinema] vai sobreviver, sem dúvida. Daqui a pouco aparece um filme... Eu citei um filme na minha apresentação, Birdman, eu acho o filme ousado, muito caro, podia dar muito errado, mas deu muito certo.

Você falou muito sobre o risco e a experimentação como formas de sobrevivência da arte. Em sua opinião, o Brasil ainda sofre com a falta de bons roteiristas, principalmente entre os cineastas da nova geração?

Eu acho que volta a esse assunto do risco. Eu acho que tem cada vez mais roteiristas melhores surgindo. Algum tempo atrás, eu dizia isso, há uns cinco anos, que falta roteirista. Eu não acho que sobre roteirista, mas está aparecendo muita gente nova, por vários motivos. Eu acho que essa lei da TV a cabo está revelando novos talentos, então começa a surgir muita gente. A proliferação de canais, a possibilidade da internet está revelando muita gente. O mercado editorial, os próprios quadrinhos... É um momento em que estão começando a surgir novos talentos. A maior dificuldade dos roteiristas é ser um ser de dois mundos. Ele é do mundo do cinema e é do mundo da literatura. Mas quem não lê não sabe escrever; quem só vê filme não sabe escrever; e quem não vê filme não sabe escrever roteiro para um filme. Então tem que ser alguém que goste de ler e goste de filme também. Não é muita gente, mas talvez seja cada vez mais gente.

Algum filme nacional recente te chamou a atenção pela ousadia, pela experimentação?

Eu citaria um que não é tão recente, O som ao redor, do Kleber [Mendonça Filho], e também o Casa grande [dirigido por Fellipe Barbosa], que é um filme que eu achei muito bom, não só o roteiro, tudo mesmo.

Durante a sua apresentação da Comic Con, você falou muito sobre internet e novas mídias. Como você acha que, daqui pra frente, isso irá se organizar em relação às janelas do cinema e da TV?

Na verdade, isso não se organiza. Isso se junta. Meus filhos não têm TV, eles vêem tudo no computador. Já é uma tela só pra eles. Eles vêem, inclusive, coisas da Globo no computador. As telas de computador cresceram... Misturou tudo agora! Eu tenho um telão em casa, então eu vejo Youtube no telão, eu vejo séries no computador, eu jogo pela Apple TV...

É que o cinema ainda está muito temente sobre a Netflix, por exemplo. Ainda não se chegou a uma conclusão sobre como organizar as novas janelas...

Isso vai se ajeitando com o andar da carruagem. As pessoas não entendem, aí surge um negócio, uma nova tecnologia, aí parece que vai acabar, mas logo surge outra coisa. Eu, felizmente, guardei todos os meus discos de vinil, porque voltou de um jeito! Eu disse pros meus amigos que estavam jogando fora “Dêem pra mim, por favor.”. Diziam que o vinil estava acabando, mas ele está voltando. A gente não sabe muito bem o que vai acontecer, e as coisas estão mudando muito rapidamente.

Você está em cartaz, na televisão, com Mister Brau, e acabou de lançar Real beleza nos cinemas. E agora, quais são os projetos futuros?

Se em 2015 eu não filmei, em 2016, eu vou fazer dois filmes, direção e roteiro. Rasga coração, um longa baseado na peça do Vianinha, e Primavera das Neves, que é um documentário, em coprodução com a Globo News, sobre uma tradutora brasileira chamada Primavera das Neves. Os dois projetos ainda estão começando, então ainda não dá para falar muita coisa, e o elenco de Rasga coração também não está definido ainda.