Canais de TV paga querem investir mais em realities

Canais de TV paga querem investir mais em realities

Thayz Guimarães
02 out 15

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Divulgação

Se eu fosse você: única série da Fox a renovar temporada

Se você é aficionado por reality shows – dos mais variados tipos: culinária, música, dança, moda, beleza, confinamento e outros –, já pode passar a mão no controle remoto da TV e comemorar, porque, no que depender de alguns grandes canais pagos, a oferta de programas desse gênero,no Brasil,só tende a crescer. Foi o que apontou a mesa de debates “Aquisições e coproduções: O que querem os canais?”, no segundo dia do RioMarket.

“Nós queremos histórias reais e personagens incríveis”, respondeu Zico Góes, diretor de desenvolvimento da Fox Brasil. Para ele, ao contrário do que acontece com HBO e Netflix mundo afora, no Brasil, em se tratando de produção, são os programas de realidade, e não os seriados, que estão conseguindo o rápido engajamento do público. “As séries brasileiras de ficção nunca deram muito certo nos canais Fox. Com exceção de Se eu fosse você, nenhuma das originais gerou uma segunda temporada, o que significa fracasso”.

Para Silvia Fu, diretora de conteúdo e produção da Turner Internacional do Brasil, grupo que administra canais como Warner, TNT, Cartoon Network e Boomerang, o grande objetivo é conquistar um público cada vez maior e mais variado. Já a diretora de conteúdo original dos canais A&E, Krishna Mahon, prefere apostar no tripé audiência - branding (reforço da marca) - vendas. "É fundamental que o produtor conheça o canal para o qual está desenvolvendo um projeto, e que ele entenda a relação do produto com a audiência daquele canal”, declarou.

Preferência pelas coproduções

Os projetos adquiridos pelos canais vêm de duas fontes principais: as aquisições (quando o canal compra um programa que ainda está sendo desenvolvido) e as coproduções (quando o canal participa da produção do programa). De acordo com os palestrantes, estas últimas costumam mais bem-vindas. “Na coprodução, a gente consegue utilizar várias leis de incentivo para fechar a conta”, explicou Silvia, da Turner. Já a aquisição, na opinião da diretora, é mais difícil de ser negociada, porque sempre há divergência entre o valor cobrado pelo produtor – que quer cobrir todos os custos de produção logo na primeira venda – e os parâmetros do mercado. “A gente costuma pagar cerca de US$ 10 mil por episódio. Não adianta chorar”.

Existe ainda uma terceira via, a pré-venda, que é a compra de um produto em fase de finalização. O sistema é mais utilizado no mercado internacional. Mas Krishna, da A&E, disse que ele também funciona muito bem por aqui. “O custo é mais alto que os das aquisições normais, mas vale a pena, porque a gente pode acompanhar o finalzinho do projeto e trocar de ideia sobre a adequação ao público e a campanha de divulgação”.

Resultados positivos, público reduzido

Outra grande questão levantada pelo debate envolve a criação da Lei da TV paga (Lei 12.485/2011), que obriga os canais internacionais atuantes no Brasil a exibir um mínimo de material original do país. Em vigor desde 2011, a lei reverberou de forma muito negativa entre os canais exibidores, pelo menos no início. Por outro lado, a imposição também resultou em uma forte demanda, antes inexistente, por esse tipo de material.

Na Turner, as produções brasileiras começaram de forma muito conservadora, até que o canal foi surpreendido com o retorno comercial extremamente positivo. O problema, segundo Silvia, está na audiência. “Sendo sincera, o público ainda não teve essa conectividade [com a produção nacional]”. Zico concorda, mas não esconde a má vontade da matriz com essas produções. “Ela sempre questiona o valor do investimento no Brasil, acha que é exagerado”. Krishna Mahon considera que “o produto brasileiro nem sempre aumenta o orçamento do canal de imediato, mas é importante no longo prazo, porque chama a atenção do público”.

Do Brasil para a América Latina

A distribuição para outros países é um grande entrave, quase sempre pautado na língua portuguesa, que, na opinião geral das matrizes, não vende como o inglês e o espanhol, já que possui um público entendedor mais limitado. O ponto fora da curva, no momento, é a série Porta dos fundos, exibida pela Fox Brasil desde outubro de 2014. A partir de novembro, pela primeira vez um produto original do Brasil será exibido pela Fox em toda a América Latina. Mais duas séries inéditas, Bruna Surfistinha, da Casa 11, e Um contra todos, da Conspiração, também serão disponibilizadas na Argentina. “Elas vão viajar”, garantiu Zico.