Se a era de ouro da TV a cabo está ficando para trás na corrida contra o vídeo por demanda, o reinado dos roteiristas está apenas começando. A tese esteve presente na fala de muitos autores, produtores e showrunners que se apresentaram no RioContentMarket. Um deles é o produtor e roteirista americano Howard Gordon, conhecido por seu trabalho nas séries Arquivo X, 24 horas e Homeland. Ele falou no RioContentMarket sobre projetos futuros e o impacto do streaming na TV.

Para Howard, a TV virou um paraíso para os roteiristas. “O cinema é dos diretores, lá eles podem demitir, contratar... Mas na TV os chefões são os roteiristas, somos nós os responsáveis pelo controle da história”. No entanto, ele confessou detestar esta função. “Eu simplesmente odeio escrever! Isto é importante destacar, porque eu o-dei-o escrever, mas amo quando está escrito. A página em branco é uma coisa aterrorizante, porque pode ser qualquer coisa, mas quando está pronto [o roteiro] é gratificante. Adoro produzir, trabalhar com os atores, e gosto de ver as pessoas assistindo a uma coisa que escrevi”.

Derivado de 24 horas

Em fase de produção – e sem previsão de lançamento –, 24 hours – Legacy é inspirada na série original 24 horas, que nos anos 2000 consagrou o personagem Jack Bauer, um agente especial do Departamento de Defesa dos EUA. Nesta nova versão, também produzida por Howard Gordon, o ator Kiefer Sutherland sai de cena para a entrada de dois agentes negros: Corey Hawkins (Straight outta Compton) no papel principal, o agente Eric Carter; e Ashley Thomas, que viverá seu irmão.

Segundo o produtor, apesar da mudança de elenco, aspectos básicos da trama permanecerão intactos. “O conceito de tempo real é um motor muito forte, por isso vamos mantê-lo até quando for preciso”, garante Gordon. Sobre a escolha de atores negros para o casting principal, Gordon disse que já havia pensado em criar um herói diferente de Bauer, mas que não se pode aplicar uma receita pronta a um papel, porque é preciso ter uma razão para isso.  “Uma mesma condição significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Em primeiro lugar, ele [o novo protagonista da franquia] continuará sendo um herói patriota. Mas o que significa hoje, nos EUA, ser patriota, ser americano e negro, por exemplo? Essas são respostas com as quais só um personagem negro conseguiria lidar”.

Binge watching maluco

Howard trabalha para a empresa Fox, que, como se sabe, exibe sua programação ainda no modo “tradicional”, em formato de grade, com horário certo para cada programa. Adepto dos novos formatos de consumo de vídeo, no entanto, ele diz sentir saudade da forma antiga de se assistir à televisão. “Eu gostava de esperar até a próxima terça-feira para ver um novo capítulo. Era uma experiência diferente que criava expectativas e estimulava as pessoas a assistirem aos programas juntas. Hoje eu assisto no meu computador, minha mulher no dela, meus filhos assistem até no celular, cada um uma série diferente”, conta.

Howard ressalva que a forma como as séries são produzidas hoje são libertadoras para os roteiristas – que agora podem contar histórias que há dez anos seriam proibidas e com roteiros feitos para durar 13 horas em vez de uma –, mas insiste que o problema está na forma como este conteúdo é consumido. “Assistir a todos os episódios em sequência, o chamado binge watching, é muita maluquice e chega a ser um pouco doentio. Antes as pessoas debatiam sobre a série, criavam expectativas. Hoje, a única pergunta feita quando você chega ao trabalho, com os olhos vermelhos, porque passou a madrugada em frente a uma tela, é ‘Quantos episódios você assistiu?’. Então não há diálogo”, reclama.

Produtor está trabalhando em três séries para 2016

Sobre projetos futuros, Gordon contou que está envolvido na primeira temporada de Second chance, que traz Robert Kazinsky (da comédia Belas e perseguidas) como um policial corrupto aposentado; no projeto de 24 horas – Legacy; e prepara a 6ª temporada de Homeland, que pela primeira vez será ambientada em Nova York.